“Que força é essa?”
“A Cantiga é uma Arma” desta semana é
dedicada a uma das primeiras músicas de Sérgio Godinho, com uma clara
orientação de protesto contra as formas de repressão impostas ao proletariado.
Falamos da canção “Que força é essa?”, que
faz parte do LP de estreia "Os Sobreviventes", gravado em finais de
abril de 1971, nos arredores de Paris, mas que só seria publicado no ano
seguinte, em setembro de 1972.
Tal aconteceu por estratégia comercial da
editora, a “Sassetti”, para não fazer concorrência ao LP "Mudam-se os
Tempos, Mudam-se as Vontades", de José Mário Branco, que foi a grande
aposta da casa para o último trimestre de 1971, a mesma altura em que a “Orfeu”,
de Arnaldo Trindade, também editou os álbuns "Cantigas do Maio", de
José Afonso, e "Gente de Aqui e de Agora", de Adriano Correia de
Oliveira.
É neste contexto de grande agitação que
vem a público mais uma voz de contestação ao regime, com “Os Sobreviventes” e a
canção “Que força é essa?”, em que se lança um grito cívico de consciencialização
e de revolta face à exploração dos trabalhadores.
“É de crer que Sérgio Godinho se tenha
inspirado na situação concreta de exploração dos emigrantes portugueses em
França (…), mas os principais destinatários da mensagem eram os que viviam cá
dentro, sob a vigência da ditadura, ainda mais mal pagos, com piores condições
de trabalho e menos direitos laborais.”
Não admira, por isso, que o álbum tenha
caído nas garras da censura, “ao ser interditado três dias após o lançamento,
sendo sucessivamente autorizado e novamente proibido.”
O sucesso de “Os Sobreviventes” foi, no
entanto, imparável, recebendo o Prémio da Imprensa, em 1972, e o Prémio
Bordalo, entregue pela Casa da Imprensa, em 1973, como "Melhor Disco
Português do Ano" na categoria “Música”, “pelo seu triplo aspeto de
qualidade, significação e consciente e eficaz trabalho de equipa”.
Mais de cinco décadas depois, “Que força é
essa?” continua um grito intemporal de consciencialização face às injustiças e
de revolta contra a submissão que “manda obedecer” e calar:
«Vi-te a trabalhar o dia inteiro,
(…) muita força p'ra pouco dinheiro!
(…) Que força é essa, amigo,
que te põe de bem com outros
e de mal contigo?»
Vamos, então, ouvir – e cantar – “Que força é essa?”, com Sérgio Godinho…
A Organização
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