quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Alunos mais novos debatem 

uso seguro da internet

No âmbito do Dia da Internet Mais Segura, que se assinalou a 11 de fevereiro, os alunos dos 1.º e 2.º anos do Agrupamento de Escolas participaram numa sessão de leitura animada da obra “Kiko e os muitos Eus”, dinamizada por Inês Portocarrero Araújo, da Biblioteca Municipal de Ponte da Barca.

O trabalho, que mobilizou as turmas das Escolas Básicas Diogo Bernardes, em Ponte da Barca, de Crasto e de Entre Ambos-os-Rios, teve como objetivo promover o diálogo com as crianças sobre o uso seguro dos ecrãs, capacitando-as para a utilização do ambiente digital de forma crítica, ética e responsável.

Do debate realizado a partir do livro “Kiko e os muitos Eus”, saíram algumas regras de utilização da internet que mereceram o compromisso dos mais novos: pensar antes de fazer alguma coisa; informar e pedir sempre ajuda aos pais e/ou a adultos amigos; não conversar nem partilhar “coisas” com desconhecidos; saber dizer “Não”.

A iniciativa partiu da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Ponte da Barca, tendo a sua operacionalização sido concretizada com a colaboração da Biblioteca Municipal, em articulação com a Biblioteca Escolar e o Departamento do 1.º Ciclo.

O livro “Kiko e os muitos Eus” é uma publicação do Conselho da Europa e foi criado propositadamente para explicar aos mais novos, de forma simples, as regras para uma melhor proteção da sua imagem e privacidade, quando utilizam a internet.

Recorde-se queDia da Internet Mais Segura se celebra anualmente, no segundo dia da segunda semana do segundo mês, e este ano teve como tema central a “Educação para a Cidadania Digital”.

Biblioteca Escolar

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Promoção das Literacias 

em Saúde Oral e da Leitura

As crianças da Educação Pré-escolar (EPE) e do 1.º Ciclo do Agrupamento de Escolas participaram em mais um ciclo de sessões de promoção da saúde oral.

A ação, que decorreu ao longo dos meses de janeiro e fevereiro, envolveu as 27 salas/turmas a funcionar nas Escolas Básicas Diogo Bernardes, em Ponte da Barca, de Crasto e de Entre Ambos-os-Rios e foi dinamizada pela Biblioteca Escolar, pela equipa de Saúde Escolar da UCC de Ponte da Barca e ainda pela Unidade de Saúde Pública do Alto Minho (ULSAM), em articulação com os departamentos da Educação Pré-escolar e do 1.º Ciclo.

Com o objetivo da promoção transversal da saúde oral, da autoestima, bem-estar e saúde mental positiva, e também do gosto pelo livro e pela leitura, o trabalho conheceu um primeiro momento com a Biblioteca Escolar a dinamizar a leitura expressiva da estória “Pedro e a Pasta de Dentes”, que consta do livro digital “SOBE+ NA BARCA”, que a BE editou em suporte digital, no ano letivo 2022/2023.

Seguiu-se uma animada conversa de educação para a saúde oral, com a enfermeira Alexandrina Rodrigues, da equipa de Saúde Escolar da UCC de Ponte da Barca, a interagir com os miúdos acerca dos cuidados para manter “dentes fortes, saudáveis e bonitos”.

Ao mesmo tempo, aconteceu também a aplicação de verniz de flúor às crianças da EPE, pela Higienista Oral Ângela Ferreira, da ULSAM, com o apoio da enfermeira Sónia, da equipa de Saúde Escolar da UCC de Ponte da Barca.

O interesse e envolvimento dos miúdos nas atividades constituem um excelente indicador quanto ao seu compromisso na adoção de comportamentos amigos da saúde oral.

Biblioteca Escolar

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste

Quem não deixara nunca de querer-te!

Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,

Tão asinha esta vida desprezaste!

            Como já pera sempre te apartaste

            De quem tão longe estava de perder-te?

            Puderam estas ondas defender-te

            Que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura Morte

Me deixou, que tão cedo o negro manto

Em teus olhos deitado consentiste!

            Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!

            Que pena sentirei que valha tanto,

            Que inda tenha por pouco viver triste?

Luís de Camões, Lírica (fixação do texto de Hernâni Cidade), 

Lisboa, Círculo de Leitores, 1980, p. 230.

Este soneto sobejamente conhecido expressa a profunda dor do sujeito poético pela perda de Dinamene, a sua amada, que morreu prematura e inesperadamente, a ponto de nem ter sido possível uma despedida: “Nem falar-te somente a dura Morte / Me deixou”.

Perante a separação definitiva, questiona o destino, o mar e a morte, que o privaram até mesmo de uma despedida, e realça que a saudade e o sofrimento causados por essa perda são tão intensos, que nenhuma tristeza parece suficiente para expressar a sua desolação, questionando-se se valerá a pena uma vida miserável, sem a sua amada.

Quem é Dinamene, aqui evocada pelo poeta?

São várias as interpretações que têm sido apresentadas “quanto à identidade deste nome, inclusivamente a de que corresponderia a uma das ninfas do mar, a que se referem vários escritores da Antiguidade”. Mas uma forte tradição biográfica de Camões, ainda que de contornos um pouco lendários, identifica-a como “uma jovem chinesa que teria perecido num naufrágio, no rio Mecom”.

No regresso de Macau a Goa, com escala em Malaca, Camões sofreu, de facto, um naufrágio, provavelmente perto do delta do rio Mecom, e perdeu quase tudo.

“Como escreveram os biógrafos antigos, Camões conseguiu salvar-se numa ‘tábua’, que tanto pode ter sido um bote como um pedaço de madeira convertido em jangada improvisada. Severim de Faria acrescentou que o Poeta tinha escapado a nado, rasgando as água com uma mão e segurando o manuscrito de Os Lusíadas na outra” (Isabel Rio Novo).

E assim nasceu no imaginário nacional a figura heroica do Poeta, lutando para salvar uma obra que vale por uma literatura. Mas, neste “naufrágio triste e miserando”, como lhe chama na estância 128 do canto X, perdeu tudo o resto. Perdeu os bens que conseguira amealhar em Macau, onde tinha exercido as funções de Provedor dos Defuntos; perdeu o espólio dos defuntos à sua guarda; e perdeu a sua querida Dinamene, por quem chora neste soneto e em vários outros poemas…

Chegado, finalmente, a Goa, por volta de 1565 ou 1566, acabaria por ser acusado e condenado ao cárcere. Escreve Isabel Rio Novo que tudo indica que “não acreditaram que o naufrágio fosse a razão pela qual Camões não entregava os bens dos defuntos e por isso o prenderam”.

O Poeta ficou indignado com a injustiça. No meio de tantas agruras, só lhe resta a sua obra poética. E o desejo de a publicar.

A partir de agora, só pensa em regressar à pátria…

Fontes: Porto Editora – Dinamene na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-07 09:16:47]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$dinamene

Isabel Rio Novo, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte – Biografia de Luís Vaz de Camões, Lisboa, Contraponto, 2024, p. 387.

A Organização


terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES


“(…) um bicho da terra tão pequeno?”

(…) Oh! Grandes e gravíssimos perigos,

Oh! Caminho da vida nunca certo,

Que, aonde a gente põe sua esperança,

Tenha a vida tão pouca segurança!

 

No mar, tanta tormenta e tanto dano,

Tantas vezes a morte apercebida;

Na terra, tanta guerra, tanto engano,

Tanta necessidade aborrecida!

Onde pode acolher-se um fraco humano,

Onde terá segura a curta vida,

Que não se arme e se indigne o Céu sereno

Contra um bicho da terra tão pequeno?

Luís de Camões, Os Lusíadas, I, 105-106

A narração n’Os Lusíadas principia com a armada de Vasco da Gama a meio da viagem (in medias res), já a chegar à Ilha de Moçambique, onde faz escala para se abastecer.

A partir daqui, assiste-se a um conjunto de atribulações, com ciladas, falsidades e traições que quase deitam tudo a perder, não fora a intervenção de Vénus.

Na Ilha de Moçambique, o chefe local, quando verifica, inspirado por Baco, que os Portugueses são cristãos, resolve destruí-los. E Gama, depois de ter sido atacado, traiçoeiramente, é enganado e recebe a bordo um piloto, com ordens para levar a armada a cair numa cilada.

Ao aproximarem-se da perigosa zona de Quíloa, Vénus afasta-os da costa por meio de “ventos contrários”, anulando, assim, a traição. O piloto mouro ainda faz outras tentativas, mas Vénus está atenta e impede que isso aconteça. A viagem continua para Norte e chegam à cidade de Mombaça, cujo rei fora avisado por Baco para os exterminar.

Face a tantas traições e a tantos perigos – ciladas, hostilidade disfarçada que ilude e alimenta esperanças –, o poeta não resiste a uma reflexão.

Termina o primeiro canto com uma consideração sobre a imprevisibilidade e a insegurança da vida e a fragilidade da condição do ser humano, “um bicho da terra tão pequeno”…, exposto a todos os perigos e incertezas e vítima indefesa do “Céu sereno” (I, 106).

Os perigos espreitam o ser humano (o herói), tão pequeno diante das forças da natureza, do poder da guerra e dos traiçoeiros enganos dos inimigos. Estamos no início da epopeia. Ver-se-á, no último canto, o décimo, até onde a ousadia, a coragem e o desejo de ir sempre mais além podem levar o “bicho da terra tão pequeno”…

Ilustração de Lima de Freitas, em Luís de Camões, Lírica,
Lisboa, Círculo de Leitores, 1980, p. 467.

Curiosamente, Camões repete este verso emblemático na canção “Junto de um seco, fero e estéril monte”, em que o sujeito poético reflete sobre a sua própria condição:

(…) Somente o Céu severo,

As Estrelas e o Fado sempre fero,

Com meu perpétuo dano se recreiam,

Mostrando-se potentes e indignados

Contra um corpo terreno,

Bicho da terra vil e tão pequeno. (…)

Quase cinco séculos passados, Camões continua intemporal, vivo e inspirador na análise da condição humana, na sua insegurança, fragilidade e contingência.

No século XVI e nos dias de hoje, Camões embarca Engenho e Arte!

A Organização

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES

O fogo que na branda cera ardia

O fogo que na branda cera ardia,

Vendo o rosto gentil que na alma vejo,

Se acendeu de outro fogo do desejo,

Por alcançar a luz que vence o dia. 

            Como de dois ardores se incendia,

            Da grande impaciência fez despejo,

            E, remetendo com furor sobejo,

            Vos foi beijar na parte onde se via.

Ditosa aquela flama, que se atreve

Apagar seus ardores e tormentos

Na vista do que o mundo tremer deve!

            Namoram-se, Senhora, os Elementos

            De vós, e queima o fogo aquela neve

            Que queima corações e pensamentos.

                                    Luís de Camões

Este soneto de Luís de Camões retrata o ardor do amor, comparando-o ao fogo que consome a cera.

O eu lírico expressa o desejo de “alcançar a luz que vence o dia”, num jogo semântico que explora “o fogo que na branda cera ardia” e a intensidade do “outro fogo do desejo”, que consome a sua alma.

Acontece que a inspiração para o poema resulta de um incidente do quotidiano. D. Guiomar de Blasfé, filha de D. Francisco Coutinho, o futuro 3.º Conde do Redondo, queimou os cabelos ao aproximar-se, descuidadamente, de uma vela ou, segundo uma outra versão, foi queimada no rosto por uma vela caída de um candelabro.

Camões dedicou ao acidente dois poemas célebres pelo seu tom humorístico, em que exalta a beleza da dama, “tão ardente e perigosa quanto a chama da vela”.

Para além do soneto, o outro poema é uma cantiga, em que o Poeta, face ao mote “Amor, que todos ofende, / teve, Senhora, por gosto, / que sentisse o vosso rosto / o que nas almas acende.”, escreveu a seguinte volta:

“Aquele rosto que traz

o mundo todo abrasado,

se foi da flama tocado,

foi porque sinta o que faz.

Bem sei que Amor se lhe rende;

Porém o seu prosuposto

Foi sentir o vosso rosto

O que nas almas acende.”

Não é difícil de imaginar o ambiente dos serões palacianos em que este tipo de poesia terá surgido. Nas palavras de Isabel Rio Novo, trata-se, de facto, “de poesias ligeiras ou de circunstância, que, tanto pelo estilo como pelas alusões que encerram, não seriam compreendidas fora desse meio ou não teriam interesse senão para os seus frequentadores.”

Poucos dias depois do aniversário do Poeta, que ocorreu no passado dia 23 de janeiro, celebramos o Camões da juventude. Camões a espalhar “Engenho e Arte” e humor pelos salões dos palácios de famílias importantes…

Fontes: Luís de Camões, “Obras Completas de Luís Vaz de Camões. II Volume – Lírica”, Lisboa, E-Primatur, 2019, pp. 170 e 99.

Isabel Rio Novo, “Fortuna, Caso, Tempo e Sorte – Biografia de Luís Vaz de Camões”, Lisboa, Contraponto, 2024, p. 101.

Justino Mendes de Almeida, “O Humor Camoniano: Aspectos psicológicos na poesia de Camões”, disponível em https://repositorio.ual.pt/server/api/core/bitstreams/aa2b098b-4501-477b-a54e-0df15b7c3570/content, acedido em 24.01.2025.

A Organização

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES


“O dia em que nasci moura e pereça”

O dia em que nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar,
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o sol padeça.

A luz lhe falte, o céu se lhe escureça,
Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.

As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o Mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!

Luís de Camões, Lírica (fixação de texto de Hernâni Cidade), Lisboa, Círculo de Leitores, 1980, p. 244.

Neste soneto, o sujeito poético amaldiçoa o dia em que nasceu e deseja que jamais se repita; mas, se, porventura, tal suceder, faz votos de que fique marcado por acontecimentos catastróficos, de cariz apocalíptico, para que todos saibam que esse “dia deitou ao Mundo a vida / Mais desgraçada que jamais se viu!”.

Num registo autobiográfico, profundamente disfórico, sobressaem os sentimentos de desesperança total e até de revolta, face à desilusão, à frustração, à dor profunda do poeta, parafraseando, para o efeito, as lamentações do texto bíblico do Livro de Job.

Apesar de a autoria camoniana do soneto não reunir o consenso, apetece, imediatamente, estabelecer uma associação entre o Camões-sujeito e o Camões-objeto da sua poesia, trazendo à memória a vida turbulenta e sombria que a “fortuna” lhe ofereceu.

São as suas atribulações amorosas, os degredos em Ceuta e no Oriente, os ferimentos em combate e a perda do olho direito, os diversos cativeiros, os perigos dos mares e da guerra, a miséria sempre omnipresente, a falta de reconhecimento, o desalento, a doença e, mesmo no final da vida, o golpe existencial de Alcácer Quibir e o consequente domínio filipino, com a apagada e vil tristeza a abater-se sobre a nação e sobre ele próprio.

Mas este poema suscita outras questões no domínio da astronomia, a ponto de investigadores da área concluírem, partindo do soneto, que Camões terá nascido, precisamente, a 23 de janeiro de 1524.

Na primeira quadra, escreve o sujeito poético que o dia em que nasceu não deverá voltar mais ao mundo, mas, se isso acontecer, “eclipse nesse passo o Sol padeça”. Por outras palavras, que tal suceda, quando o sol regressar ao ponto inicial, depois de percorrer toda a eclíptica, e ele completar um ano de idade.

Esta pista levou investigadores da Universidade de Coimbra a aprofundarem uma ideia defendida, em 1940, por Mário Saa. Meteram mãos à obra e procuraram todos os eclipses visíveis em Portugal, em 1524 e 1525. Consultando os dados da agência espacial norte-americana NASA, a equipa apenas encontrou um nesse período, a 23 de janeiro de 1525. Reforçaram, então, a ideia de o poeta terá nascido um ano antes, ou seja, a 23 de janeiro de 1524, já lá vão 501 anos.

Sendo assim, na próxima quinta-feira, brindemos com Luís de Camões.

São os 501 anos deste génio do Engenho e Arte!

Fonte: Filipa Almeida Mendes e Lusa, “Um soneto e um eclipse solar indicam a data de nascimento de Camões”, in “Público”, 12 de janeiro de 2024. Disponível em https://www.publico.pt/2024/01/12/ciencia/noticia/soneto-eclipse-solar-indicam-data-nascimento-camoes-2076646, acedido em 15/01/2025.

A Organização

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

"À CONVERSA COM MÓNICA MOTA LOPES"

Pequenos gestos fazem grandes diferenças

A obra Pequenos Gestos, Grandes Diferenças, de Mónica Mota Lopes, esteve no centro de uma animada conversa que a autora manteve com os alunos dos 2.º, 3.º e 4.º anos do Agrupamento de Escolas de Ponte da Barca.

No âmbito da iniciativa “À conversa com…”, promovida pela Biblioteca Escolar, em articulação com o Departamento do 1.º Ciclo, a jornalista e escritora partilhou com os mais novos alguns dos desafios que os seis contos do livro colocam, inspirando-os a uma atitude positiva e facilitadora do bem-estar pessoal.

“Desde o bullying, passando pela capacidade de superar desafios e pelo enaltecimento das capacidades de cada um de nós”, até à autoestima e à persistência na concretização dos nossos sonhos e do nosso projeto de vida, a interação explorou todos estes temas, num registo sempre muito próximo e produtivo, com a escritora a responder às questões colocadas pelos participantes.

Num apelo permanente ao desenvolvimento pessoal e social, a conversa com Mónica Mota Lopes revelou-se um excelente exercício de cidadania, de promoção da autoestima e de valorização da diferença.

Recorde-se que, por ocasião do Natal, os alunos dos 2.º, 3.º e 4.º anos do Agrupamento de Escolas haviam sido presenteados pela Câmara Municipal de Ponte da Barca com um exemplar de Pequenos Gestos, Grandes Diferenças, pelo que grande parte dos participantes já havia lido a obra, situação que enriqueceu a interação com a autora.

Biblioteca Escolar

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES


Despedidas em Belém: “Por perdidos as gentes nos julgavam…”

[…] Em tão longo caminho e duvidoso

Por perdidos as gentes nos julgavam,

As mulheres cum choro piadoso,

Os homens com suspiros que arrancavam.

Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso

Amor mais desconfia, acrecentavam

A desesperação e frio medo

De já nos não tornar a ver tão cedo.

 

Qual vai dizendo: – «Ó filho, a quem eu tinha

Só pera refrigério e doce emparo

Desta cansada já velhice minha,

Que em choro acabará, penoso e amaro,

Porque me deixas, mísera e mesquinha?

Porque de mi te vás, o filho caro,

A fazer o funéreo encerramento

Onde sejas de pexes mantimento?»

 

Qual em cabelo: – «Ó doce e amado esposo,

Sem quem não quis Amor que viver possa,

Porque is aventurar ao mar iroso

Essa vida que é minha e não é vossa?

Como, por um caminho duvidoso,

Vos esquece a afeição tão doce nossa?

Nosso amor, nosso vão contentamento,

Quereis que com as velas leve o vento?»

 

[…] Nós outros, sem a vista alevantarmos

Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,

Por nos não magoarmos, ou mudarmos

Do propósito firme começado,

Determinei de assi nos embarcarmos,

Sem o despedimento costumado,

Que, posto que é de amor usança boa,

A quem se aparta, ou fica, mais magoa.

Luís de Camões, “Os Lusíadas”, IV, 89-91; 93

Ainda a propósito dos 500 anos da morte de Vasco da Gama, que ocorreu no último dia 24 de dezembro, impõe-se uma breve visita à grandeza heroica do seu feito como capitão-mor da armada que, pela primeira vez, ligou a Europa à Índia.

Comecemos pela partida, a 8 de julho de 1497, um sábado. Uns cento e setenta homens, entre soldados e marinheiros, aparelharam “a alma pera a morte” (IV, 86), comungando e pedindo a proteção de Deus, e, depois, dirigem-se em procissão da capela de Nossa Senhora de Belém para os batéis, que os conduziriam às três caravelas.

“A gente da cidade” (IV, 88) enche o areal, num ambiente tenso e sombrio. São as despedidas de quem parte “pera buscar do mundo novas partes.” (IV, 85).

“Por perdidos as gentes nos julgavam” – diz Vasco da Gama. E, entre a dor mais atroz, surgem

“As mulheres cum choro piadoso,

Os homens com suspiros que arrancavam.

Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso

Amor mais desconfia, acrecentavam

A desesperação e frio medo

De já nos não tornar a ver tão cedo.”

Neste ambiente na Praia das Lágrimas, como lhe chamavam à época,  Vasco da Gama, para evitar males maiores, toma uma decisão:

“Determinei de assi nos embarcarmos,

Sem o despedimento costumado.”

Mas este é apenas o peso inicial. Com a viagem no alto-mar, surgiam os enjoos, a ansiedade e o pânico do desconhecido, novos climas e doenças assustadoras, fenómenos naturais tenebrosos, tempestades, “naufrágios, perdições de toda a sorte” (V, 44). E também a fome e a sede e os encontros e desencontros com os povos indígenas e os ataques e outros acidentes…

No canto V, Vasco da Gama resume ao rei de Melinde – e a cada um de nós – todos estes tormentos:

“Ora imagina agora quão coitados

Andaríamos todos, quão perdidos,

De fomes, de tormentas quebrantados,

Por climas e por mares não sabidos!” (V, 70)

A viagem da armada de Gama até Calecute constitui um marco histórico, com um notável impacto aos mais diversos níveis. Mas teve um preço muito elevado, nomeadamente, em termos humanos.

Num tom épico-lírico, Fernando Pessoa imortalizaria, em pleno século XX, a grandeza de toda esta gesta com o poema “Mar Português” (in “Mensagem”):

“Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

 

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.”

Vale a pena ouvir – e cantar – este poema, acompanhando Mafalda Arnauth e os “Milladoiro”. O tema faz parte do álbum "A Quinta das Lágrimas" (2008).

A Organização

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES


 Mandas-me, ó Rei, que conte…

Prontos estavam todos escuitando

O que o sublime Gama contaria,

Quando, despois de um pouco estar cuidando,

Alevantando o rosto, assi dizia:

– «Mandas-me, ó Rei, que conte declarando

De minha gente a grão genealogia;

Não me mandas contar estranha história,

Mas mandas-me louvar dos meus a glória.

        Que outrem possa louvar esforço alheio,

        Cousa é que se costuma e se deseja;

        Mas louvar os meus próprios, arreceio

        Que louvor tão suspeito mal me esteja;

        E, pera dizer tudo, temo e creio

        Que qualquer longo tempo curto seja;

        Mas, pois o mandas, tudo se te deve;

        Irei contra o que devo, e serei breve.

Além disso, o que a tudo, enfim, me obriga

É não poder mentir no que disser,

Porque de feitos tais, por mais que diga,

Mais me há de ficar inda por dizer.

Mas, porque nisto a ordem leve e siga,

Segundo o que desejas de saber,

Primeiro tratarei da larga terra,

Despois direi da sanguinosa guerra. […]»

    Luís de Camões, Os Lusíadas, III, 3-5

É neste início do canto III que o “sublime Gama” assume o papel de narrador, contando – ou melhor, cantando – ao rei de Melinde a História de Portugal e da viagem, de que ele próprio era o “valeroso capitão”.

Neste porto seguro do Índico, Vasco da Gama trata primeiro “da larga terra”, em seguida, da “sanguinosa guerra” e, por fim, da viagem da sua armada, desde Belém até Melinde, onde se encontram, dando corpo aos cantos III, IV e V.

O herói de Os Lusíadas é “o peito ilustre Lusitano / a quem Neptuno e Marte obedeceram” (I, 3). Mas o acontecimento maior que serve de eixo a toda a narração é a viagem de Vasco da Gama (1469-1524), que, “por mares nunca de antes navegados” (I, 1), deu novos mundos ao mundo, ao chegar a Calecute, na Índia, a 20 de maio de 1498, na mais longa viagem oceânica até então realizada.

Não deixa de ser curioso que esta figura central da epopeia tenha morrido, precisamente, no ano em que Camões nasceu. Foi a 24 de dezembro de 1524 – fez no dia de Consoada 500 anos – que faleceu em Cochim, na Índia, onde desempenhava o cargo de vice-rei.


Umas quatro décadas e meia depois, os Gama e Camões voltam a cruzar-se, quando o poeta preparava a publicação de Os Lusíadas, obra que imortalizaria, entre outros, os feitos do “valeroso capitão”.

Procurando um mecenas para a impressão do livro, Isabel Rio Novo escreve que Camões, “segundo todas as probabilidades, foi primeiro bater às portas da família Gama. […] Mas os Gama não atenderam o seu pedido.” A este propósito, a autora recorda ainda que o “biógrafo inglês Richard Burton evocava uma anedota, segundo a qual, numa altura em que alguém citara Os Lusíadas como honrando o nome dos Gama, um descendente do descobridor tinha exclamado: ‘Temos os títulos e não queremos os elogios.’”

Enfim! Razão tinha o poeta para lamentar, no final do canto V, que “quem não sabe arte não na estima” (V, 97), criticando os seus contemporâneos, porque desprezavam as letras, a arte em geral.

Mais: os Portugueses são “tão ásperos”, “tão austeros, / tão rudos e de engenho tão remisso” (V, 98), que nem se preocupam minimamente com esta sua pobre condição.

Pois… Era assim, há 500 anos!

Bibliografia: Isabel Rio Novo, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte – Biografia de Luís Vaz de Camões, Lisboa, Contraponto, 2024, p. 460.

A Organização