terça-feira, 30 de janeiro de 2024

COMEMORAÇÕES DOS 50 ANOS DO 25 DE ABRIL

“LIBERDADE É…”

No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a Escola Secundária de Ponte da Barca assinalou o Dia Mundial da Liberdade (23 de janeiro) com uma reflexão sobre a Liberdade.

No início das atividades letivas, os alunos foram convidados a visualizar uma curta-metragem que explora o desafio da libertação das múltiplas amarras a que podemos estar sujeitos, seguindo-se um breve debate e o registo, numa tira de papel, de uma mensagem/ reflexão, dando continuidade à frase “Liberdade é....”.


Em termos genéricos, os trabalhos, que foram colocados numa tômbola, revelam uma apurada consciência cívica e uma noção muito clara dos direitos e deveres.

Entre as centenas de textos, há um que diz “não sei o que é”; alguns referem, de uma forma redundante, “Liberdade é… ser livre” ou, então, simplesmente, “poder fazer o que se quiser”; a maioria, porém, revela um bom nível de reflexão, com alusão a aspetos relevantes deste direito consagrado pelas sociedades democráticas.


Eis alguns exemplos dos textos que, entretanto, foram afixados num mural, à entrada do Bloco C da Secundária:

“Liberdade é… o direito de agir, pensar e expressar-se sem opressão ou discriminação”;

“Liberdade é… autonomia, autodeterminação, independência”;

“Liberdade é… como o vento, não podemos vê-la, mas podemos sentir a sua presença e o seu poder”;

“Liberdade é… responsabilidade”;

“Liberdade é… como o sol. É o bem maior do mundo!”;

“Liberdade é… essencial à dignidade humana, é um direito básico e uma pedra angular de uma sociedade feliz, autónoma e produtiva”;

“Liberdade é… ter a possibilidade de ser eu mesma, poder fazer escolhas e viver sem medo”;

“Liberdade é… um valor a que todos aspiramos, ainda que, no mundo que corre, não passe, cada vez mais, de uma aspiração inglória!?”;

“Liberdade é… um direito universal que concede ao homem a possibilidade de usar todas as suas capacidades para o bem de si e de todos”;

“Liberdade é… sermos nós próprios”;

“Liberdade é… é viver sem restrições”;

“Liberdade é… aproveitar a vida ao máximo, poder amar, escolher, opinar. Ser um homem que sabe cumprir tanto os direitos como os deveres”;

“Liberdade é… ter opinião própria, ter opção de escolha, decidir as minhas ações”;

“Liberdade é… felicidade”;

“Liberdade é… renegar a opressão. Rasgar as cordas que nos mantêm oprimidos. Ter uma voz própria. Ser feliz”;

“Liberdade é… um direito que devemos usar com responsabilidade”;

“Liberdade é… conquistarmos o que ainda não foi conquistado”.

Por esta amostra, é possível concluir que a comunidade discente da Secundária de Ponte da Barca tem plena consciência da importância desta conquista de Abril e da necessidade de se cultivar, permanentemente, o valor da Liberdade.


A iniciativa – que se integra num plano alargado de ações comemorativas da Revolução dos Cravos – partiu do Projeto Cultural de Escola, em articulação com a Biblioteca Escolar, e contou com a cooperação dos professores das diversas áreas disciplinares.

A Organização

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

A CANTIGA É UMA ARMA

“Desfolhada”

A caminho dos 50 anos do 25 de Abril, continuamos a recordar um poema, uma canção e histórias associadas, que nos remetem para o ambiente cultural e político dos últimos anos da ditadura do Estado Novo e para a aurora da Liberdade e da Democracia.


Na edição 14 de “A Cantiga é uma Arma”, recuamos a 1969 e a uma canção que agitou a sociedade cinzenta e fechada de então, ajudando a abalar convenções, a inquietar mentalidades, a mudar pontos de vista.


Com letra de Ary dos Santos e música de Nuno Nazareth Fernandes, “Desfolhada” é uma canção interpretada por Simone de Oliveira, que, em 1969, venceu a VI edição do Grande Prémio TV da Canção, atual Festival RTP da Canção.

Representou Portugal no Festival Eurovisão desse ano, em Madrid, conhecendo grande sucesso, a ponto de se tornar num dos grandes temas de sempre da música portuguesa.

Apesar de não ter sido a primeira escolha dos autores para defender a "Desfolhada" no festival, sendo mesmo convidada em cima da hora, Simone de Oliveira é considerada a alma do êxito da canção, graças à força da sua interpretação e à frontalidade e coragem com que, naquela época, em direto e para todo o país, cantou, energicamente, que “quem faz um filho fá-lo por gosto”.

Numa sociedade cinzenta e fechada, em que a ditadura e os censores ditavam leis, o poema de Ary dos Santos e a atitude arejada de Simone fizeram estalar a polémica a nível nacional. E, indiscutivelmente, a “Desfolhada” tornou-se numa música que “abalou o País do respeitinho” e das aparências e acabou por ajudar a despertar espíritos, a inquietar mentalidades, a abalar convenções, a mudar pontos de vista. Tudo isto num período em que determinados setores da sociedade acreditavam que a ditadura teria direito à sua primavera, com Marcelo Caetano.

Mesmo assim, houve necessidade de fazer concessões… Em entrevista a Miguel Carvalho, para a revista “Visão”, Nuno Nazareth Fernandes reconhece que “a letra era forte, uma pedrada no charco”, e recorda que tiveram de mexer numa passagem: «Onde se escrevia “Oh minha terra / minha aventura/ casca de nós / desamparada” mudou-se para casca de…noz. “Casca de nós era o País, nós enquanto povo, desamparados”, explica o autor da música.»

Com uma coreografia cuidada, em que a própria cor dos vestidos de Simone e das duas coralistas é simbolicamente explorada no festival, a canção tornou-se um símbolo emblemático de um tempo novo.


No regresso de Madrid, do Festival Eurovisão, Simone de Oliveira foi recebida na estação de comboio de Santa Apolónia, em Lisboa, num ambiente de apoteose, com uma multidão a aclamá-la euforicamente e a cantar a “Desfolhada”:

Oh minha terra
minha aventura
casca de noz
desamparada.

Oh minha terra
minha lonjura
por mim perdida
por mim achada.

Vamos, então, ouvir – e cantar – “Desfolhada”, com Simone de Oliveira…

A Organização

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A CANTIGA É UMA ARMA

"Queixa das almas jovens censuradas"

A edição desta semana de “A Cantiga é uma Arma” recua ao ano de 1971, para celebrar “Queixa das almas jovens censuradas”, uma canção de José Mário Branco, com letra de Natália Correia.


Trata-se de um tema que faz parte do álbum “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, gravado em 1971, em França, durante os anos de exílio do cantautor, que é considerado um dos mais importantes da música portuguesa e da canção de intervenção.

Nas palavras de Nuno Galopim, «“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” eleva a canção em língua portuguesa a um espaço de primor estético mais desafiante do que até aí se conhecera». 


No seu conjunto, o álbum é uma espécie de marcha repleta de simbologia, remetendo para um horizonte de futuro, para o que se desejava como inevitável: a mudança, política e social. Neste trabalho, destaca-se a canção “Queixa das almas jovens censuradas”, um poema de Natália Correia, cujo título sugere um lamento dos jovens a quem impedem de ser livres.

A utilização sistemática, ao longo do poema, da 1.ª pessoa do plural sublinha a natureza coletiva de quem se lamenta. Podemos afirmar que estamos perante o relato triste de toda uma geração que é obrigada a “ir à escola”, para receber uma educação destinada a produzir bonecos, “manequins” de “corda", sem alma, "vazios", sem ideias própriassem identidade, sem nada. Uma educação que procura fazer dos jovens cadáveres adiados, incapazes de espetar “os cornos no destino”.

A deformação levada a cabo pelos censores é bem visível na quinta estrofe:

“Penteiam-nos os crânios ermos

Com as cabeleiras dos avós

Para jamais nos parecermos

Connosco quando estamos sós.”


Graças à sua divulgação nas rádios, a canção teve uma forte receção em Portugal, contribuindo para o aprofundamento do compromisso político contra a censura e as dores de uma sociedade fechada.

Vamos, então, ouvir – e cantar – “Queixa das almas jovens censuradas”, um grito de cidadaniade Natália Correia cantado por José Mário Branco…  

A Organização

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

“A Caminho dos 50 anos do 25 de Abril”

em exposição na Secundária

“A Caminho dos 50 anos do 25 de Abril” é o título genérico de uma exposição que está patente ao público no átrio do bloco C da Escola Secundária de Ponte da Barca.


A mostra tem como ponto de partida um questionário em linha aplicado aos alunos do 3.º Ciclo e do Ensino Secundário, desafiando-os a responderem a 25 perguntas sobre o Estado Novo, a Revolução dos Cravos e o período de consolidação das instituições que se lhe seguiu, até à entrada em vigor da nova Constituição democrática, a 25 de abril de 1976, o mesmo dia das primeiras eleições legislativas (um ano antes, haviam acontecido as eleições para a Assembleia Constituinte), e às primeiras eleições presidenciais, a 27 de junho de 1976.

Um dos dados mais relevantes do questionário tem a ver com a qualidade das respostas, entre as quatro opções apresentadas em cada uma das 25 perguntas, pois a mediana situa-se em 21, no quadro de 25 pontos possíveis.

Trata-se de um indicador muito bom que atesta o nível de conhecimento da comunidade escolar da Secundária, quanto a este período da nossa história coletiva.


Apesar de tudo, aqui e acolá surgiram dúvidas e, por vezes, apareceram confusões, pelo que a exposição apresenta os resultados e procura validar as respostas, uma a uma, com um breve enquadramento histórico e ilustrações significativas.

Organizada pela Biblioteca Escolar e pelo Plano Nacional das Artes, a iniciativa integra-se no plano abrangente do Projeto Cultural de Escola que o Agrupamento tem em curso, no âmbito da celebração dos 50 anos do 25 de Abril.

A Organização

A CANTIGA É UMA ARMA

“Adeus, Guiné”

“A Cantiga é uma Arma” desta semana dedica a sua atenção a um dos discos/ temas mais controversos.

Trata-se da obra “Adeus, Guiné”, uma gravação de 1970 do “Conjunto Típico Armindo Campos”.


Composta num registo genuinamente simples e popular, a “canção tornou-se numa das mais ouvidas e cantadas nas rádios portuguesas, principalmente na Emissora Nacional, onde o disco foi transmitido até à exaustão”, e também nos ambientes militares, nomeadamente na Guiné, território que era palco da frente de guerra mais temida, com o exército português a travar uma luta brutal de guerrilha com o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), liderado por Amílcar Cabral.

Para além do ritmo musical, a canção destaca-se pelo tom comovente e profundamente nacionalista da sua letra, com uma mensagem de propaganda do Estado Novo, sob os auspícios de Marcelo Caetano, através da exaltação da Guerra Colonial e do dever de defesa da “pátria querida” por parte dos jovens soldados.

O refrão é bem elucidativo:

“Adeus, Guiné,

Tenho já dever cumprido,

Não estou arrependido

De tanto por ti lutar.

Adeus, Guiné,

Serás sempre Portugal,

Mas se crescer o teu mal

Volto para te salvar.”

Vinheta da ARA sobre o ataque ao Cunene.

No entanto, apesar de toda esta propaganda, no início da década de 70 vários setores da sociedade portuguesa mostravam desconforto em relação a esta mensagem, não conseguindo “esconder o seu descontentamento e revolta, perante a injustiça, os danos e os massacres que a Guerra proporcionava.”

E, quatro anos depois, o mal-estar à volta da Guerra Colonial acabaria por ser uma das motivações mais vincadas do Movimento dos Capitães, que estaria no centro da Revolução do 25 de Abril de 1974.

Vamos, então, ouvir “Adeus, Guiné”, uma interpretação do “Conjunto Típico Armindo Campos”. 

A Organização

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

A CANTIGA É UMA ARMA

“Os Vampiros” (1963)

Com o início do 2.º período letivo, retomamos o apontamento “A Cantiga é uma Arma”, assim avivando memórias de poemas, cantigas e histórias que marcaram o período do fim do Estado Novo e os primeiros tempos da nossa Democracia.

Na edição desta semana, a nossa atenção vai para "Os Vampiros", uma canção de José Afonso (1929-1987), originalmente gravada em 1963, no disco “Baladas de Coimbra”.

Juntamente com "Trova do Vento que Passa" (poema de Manuel Alegre, música de António Portugal e interpretação de Adriano Correia de Oliveira), constitui um marco fundamental da canção de intervenção e de resistência antifascista. É mesmo considerado um dos temas fundadores do canto político em Portugal, “assumido como instrumento de combate cultural e cívico em tempo de censura e um símbolo da resistência contra o fascismo. Estava lá tudo dito e, por isso, não podia ser dito.”

Numa edição especial de 2009 da revista Blitz, “Os Vampiros” foi escolhida como uma das melhores canções da década de 60.

Segundo Albano Viseu, no seu estudo A Simbologia das Palavras e a revolução silenciosa: os sentidos implícitos nas canções de Zeca Afonso (Chiado Editora, 2014), “José Afonso tentou comunicar valores e ideais, utopias e mensagens libertadoras, ansiou por um Portugal sem tabus, sem ter de calar o valor da liberdade, pelo que se tornou num vulto histórico, num modelo de afronta na luta contra o regime. As suas canções premeiam uma veia criadora, intensamente preocupada com causas humanas e sociais e são exemplo de ação e de luta constante, objetivando provocar a agitação e a mudança, contra o marasmo fomentado por um regime que necessitava de ser questionado e, por fim, substituído.” 

Acrílico de Josefa Moura.

Notável grito de Cidadania, a mensagem de Zeca Afonso em "Os Vampiros” permanece intemporal. Mas a coragem do chamado trovador da Liberdade teve um preço alto. O regime ditatorial não lhe perdoou, condenando-o à exclusão.

Em entrevista ao semanário “Labor.pt”, Arnaldo Trindade, fundador da editora Orfeu, recorda que, quando saiu a balada “Os Vampiros”, foi “proibidíssima. Depois disso, o José Afonso foi excluído do ensino, não tinha possibilidades de ter meios para viver e ninguém o quis gravar. Ninguém. Ele foi a todas as editoras”.

Desde o seu lançamento, em 1963, o tema conheceu múltiplas versões, entre elas a da banda de rock UHF, editada em 2014, por ocasião das comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos.

Vamos, então, ouvir – e cantar – “Os Vampiros”, com José Afonso…

A Organização