quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

A CANTIGA É UMA ARMA

“Adeus, Guiné”

“A Cantiga é uma Arma” desta semana dedica a sua atenção a um dos discos/ temas mais controversos.

Trata-se da obra “Adeus, Guiné”, uma gravação de 1970 do “Conjunto Típico Armindo Campos”.


Composta num registo genuinamente simples e popular, a “canção tornou-se numa das mais ouvidas e cantadas nas rádios portuguesas, principalmente na Emissora Nacional, onde o disco foi transmitido até à exaustão”, e também nos ambientes militares, nomeadamente na Guiné, território que era palco da frente de guerra mais temida, com o exército português a travar uma luta brutal de guerrilha com o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), liderado por Amílcar Cabral.

Para além do ritmo musical, a canção destaca-se pelo tom comovente e profundamente nacionalista da sua letra, com uma mensagem de propaganda do Estado Novo, sob os auspícios de Marcelo Caetano, através da exaltação da Guerra Colonial e do dever de defesa da “pátria querida” por parte dos jovens soldados.

O refrão é bem elucidativo:

“Adeus, Guiné,

Tenho já dever cumprido,

Não estou arrependido

De tanto por ti lutar.

Adeus, Guiné,

Serás sempre Portugal,

Mas se crescer o teu mal

Volto para te salvar.”

Vinheta da ARA sobre o ataque ao Cunene.

No entanto, apesar de toda esta propaganda, no início da década de 70 vários setores da sociedade portuguesa mostravam desconforto em relação a esta mensagem, não conseguindo “esconder o seu descontentamento e revolta, perante a injustiça, os danos e os massacres que a Guerra proporcionava.”

E, quatro anos depois, o mal-estar à volta da Guerra Colonial acabaria por ser uma das motivações mais vincadas do Movimento dos Capitães, que estaria no centro da Revolução do 25 de Abril de 1974.

Vamos, então, ouvir “Adeus, Guiné”, uma interpretação do “Conjunto Típico Armindo Campos”. 

A Organização

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