terça-feira, 3 de dezembro de 2024

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES


“Esta é a ditosa pátria minha amada” 

“Eis aqui, quase cume da cabeça

De Europa toda, o Reino Lusitano,

Onde a terra se acaba e o mar começa

E onde Febo repousa no Oceano.

Este quis o Céu justo que floreça

Nas armas contra o torpe Mauritano,

Deitando-o de si fora; e lá na ardente

África estar quieto o não consente.

 

Esta é a ditosa pátria minha amada,

À qual se o Céu me dá que eu sem perigo

Torne, com esta empresa já acabada,

Acabe-se esta luz ali comigo.

Esta foi Lusitânia, derivada

De Luso ou Lisa, que de Baco antigo

Filhos foram, parece, ou companheiros,

E nela antão os íncolas primeiros.”

Luís de Camões, “Os Lusíadas”, III, 20-21.

Depois de traições, armadilhas, tentativas de destruição e outros perigos vividos na Ilha de Moçambique, em Quíloa e em Mombaça, a armada de Vasco da Gama encontra, finalmente, um porto seguro em Melinde, onde os Portugueses são calorosamente recebidos.

O rei local acolhe-os em festa e pede a Vasco da Gama que lhe fale de Portugal e da nossa História. É isso mesmo o que ele faz, tratando primeiro “da larga terra” e, em seguida, da “sanguinosa guerra”.

Após a descrição da Europa, chega à localização geográfica de Portugal:

“Eis aqui, quase cume da cabeça

De Europa toda, o Reino Lusitano,

Onde a terra se acaba e o mar começa

E onde Febo repousa no Oceano.”

E continua com o verso emblemático, que abre a estância 21 do canto terceiro: “Esta é a ditosa pátria minha amada (…).”

O termo “pátria” tem origem etimológica no latim (“pater, -tris”) e remete não só para a ideia de “pai”, mas, sobretudo, para o conceito social e respeitoso de antepassado ou antepassados, a quem devemos um património, que importa honrar.

São eles os heróis, de uma família e de um povo… E, neste contexto, ocorre, de imediato, um outro verso famoso do canto oitavo, em que Paulo da Gama apresenta ao Catual da cidade indiana de Calecute, num tom solene, figuras grandes da história portuguesa e sintetiza a admiração e o respeito de um povo pela figura de Dom Nun’Álvares Pereira, referindo “Ditosa pátria que tal filho teve!”.

Foi ele, de facto, quem, em plena crise de 1383-1385, “quando a independência da pátria estava presa por um fio ténue”, tomou “sobre si a tarefa hercúlea de tudo assumir sobre seus ombros – a imagem remete necessariamente para Hércules que, traído por Atlas quando dele se aproximou para saber do paradeiro das Hespérides, aceitou tomar a seus ombros o globo terráqueo” (Aires A. Nascimento).

A par desta visão épica de Portugal, outras há com forte pendor negativo e de profundo desencanto.

Jorge de Sena, por exemplo, no poema "A Portugal" (1961), não hesita em recusar a pátria, que não é a mátria de Eduardo Lourenço, mas antes a madrasta:

“Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.

Nem é ditosa, porque o não merece.

Nem minha amada, porque é só madrasta.

Nem pátria minha, porque eu não mereço

A pouca sorte de ter nascido dela.”

 

E a revolta do poeta termina em apoteose:

“(…) és peste e fome e guerra e dor de coração.

Eu te pertenço, mas ser's minha, não.”

Para Jorge de Sena, Portugal não é a mátria lusitana exaltada n’“Os Lusíadas”, mas, antes, a madrasta que provoca desencanto.

384 anos depois da Restauração ou Aclamação da Independência, a 1 de dezembro de 1640, Portugal continua um desafio à cidadania de todos e de cada um de nós. Até porque permanece lapidar o verso final do poema “Infante” (“Mensagem”, 1934), de Fernando Pessoa: “Senhor, falta cumprir-se Portugal!”.

A Organização

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Educação Pré-escolar e 1.º Ciclo "À conversa com Mari Popó..."

Nos próximos dias 02, 03 e 04 de dezembro, Mari Popó (atriz Margarida Silva) visita o nosso Agrupamento de Escolas, para dinamizar encontros com as diversas salas/ turmas da Educação Pré-escolar (EPE) e do 1.º Ciclo.

Com as crianças da EPE e do 1.º ano, o trabalho vai centrar-se na obra “Gilberto, o cão poeta, anima a festa”, de Gisela Silva, com ilustração de Ireneu Oliveira. Por sua vez, a animação com os alunos dos 2.º, 3.º e 4.º anos será a partir do livro “Uma andorinha na minha cabeça”, de Ireneu Oliveira.

Como é habitual, este trabalho acontece no âmbito da parceria que o Agrupamento mantém com as edições “Opera Omnia”, realizando-se de acordo com o seguinte calendário:

Dia

Hora

Turma

Escola

02

de dezembro

(segunda)

09.00 H

2º ano – Professora Arminda Alves

3º ano – Professora Fátima Gomes

4º ano – Professora Sílvia Alves

Escola Básica de Crasto

09.45 H

Sala A EPE – Educadora Beatriz Cerqueira

Sala B EPE – Educadora Cristina Pires

1º ano – Professora Conceição Sousa

11.00 H

Sala A EPE – Educadora Manuela Barbosa 

1º ano – Professora Paula Fernandes

Escola Básica de Entre Ambos-os-Rios

11.45 H

2.º ano – Professora Paula Fernandes

3º ano – Professora Susana Carvalho

4º ano – Professora Elisabete Encarnação

03 de dezembro (terça)

09.00 H

1º A – Professora Catarina Azevedo

1º B – Professora Cristina Silva

1º C – Professora Ana Cláudia Pontes

Escola Básica Diogo Bernardes

10.00 H

Sala A EPE – Educadora Sílvia Pereira

Sala C EPE – Educadora Fernanda Silva

Sala D EPE – Educadora Susana Rodrigues

11.00 H

Sala B EPE – Educadora Alberta Centeno

Sala E EPE – Educadora Arminda Dias

04

de dezembro

(quarta)

09.00 H

2º A – Professora Celeste Gonçalves

2º B – Professora Rosa Maria Sousa

2º C – Professora Ana Mofreitas

Escola Básica Diogo Bernardes

 

10.00 H

3º A – Professora Adelina Barbosa

3º B – Professora Isabel Nunes

3º C – Professora Goreti Antunes

11.00 H

4º A – Professora Maria do Sameiro Estrela

4º B – Professora Guiomar Fernandes

4º C – Professora Liliana Lima

Biblioteca Escolar

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Clube de Leitura do 1.º Ciclo

Um grupo de alunos do 1.º Ciclo da Escola Básica Diogo Bernardes participou em mais uma sessão do Clube de Leitura, dinamizado pela Biblioteca Escolar.

No centro da conversa esteve a obra “Não abras este livro”, de Andy Lee, com ilustração de Heath McKenzie.

Explorando o equilíbrio, nem sempre fácil, entre a curiosidade e a proibição, o diálogo proporcionou a construção de pontes com outras narrativas, nomeadamente a do Jardim do Éden bíblico, com Adão e Eva no paraíso, a história mitológica de Orfeu e Eurídice e a lenda do Penedo da Moura.

A sessão, que contou ainda uma chamada de atenção para elementos paratextuais do livro, revelou-se um momento excelente de partilha, de exercício do domínio da oralidade e do espírito crítico e também uma oportunidade de aprofundamento da autoestima e da autonomia.

Biblioteca Escolar

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

“Kiko e a Mão”: “Aqui ninguém toca!”

O livro “Kiko e a Mão” esteve no centro de uma conversa que mobilizou as turmas do 4.º ano das Escolas Básicas de Entre Ambos-os-Rios, de Crasto e Diogo Bernardes.


Dinamizadas por Inês Portocarrero Araújo, da Biblioteca Municipal de Ponte da Barca, as sessões aconteceram no âmbito da celebração do Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual, que, desde 2015, se assinala a 18 de novembro.

O livro “Kiko e a Mão” é uma publicação do Conselho da Europa e foi criado propositadamente para explicar aos mais novos, de forma simples, a regra “Aqui ninguém toca!”, a fim de que possam perceber a diferença entre o contacto físico bom e o contacto físico mau.

O trabalho – que possibilitou um diálogo saudável com as crianças sobre o assunto – foi uma iniciativa da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Ponte da Barca com a colaboração da Biblioteca Municipal, em articulação com a Biblioteca Escolar e o Departamento do 1.º Ciclo.

Biblioteca Escolar 

terça-feira, 26 de novembro de 2024

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES


Descalça vai pera a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.


Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamalote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa, e não segura.

            Luís de Camões, Lírica, fixação de texto de Hernâni Cidade,                                Lisboa, Círculo de Leitores, 1980, p. 128.

Neste vilancete, o sujeito poético descreve Lianor, num ambiente rural, a caminho da fonte, onde vai buscar água…, e não só!

Ela é uma jovem frágil, delicada e formosa, com graciosidade e pureza interior, mas insegura: “Vai fermosa, e não segura.” Esta ideia constitui, aliás, o refrão, repetido no final de cada estrofe.

Por um lado, valoriza-se a beleza física de Lianor, num retrato idealizado à maneira clássica, em que sobressai a pele branca e os cabelos louros, qualidades realçadas com as metáforas "mãos de prata" – "mais branca que a neve pura" – e "cabelos de ouro entrançado":

“(…) Tão linda que o mundo espanta.

Chove nela graça tanta,

Que dá graça à fermosura."

E, para acentuar a beleza, o sujeito poético recorre a cores contrastantes: branco – símbolo de pureza e de inocência –, vermelho – que remete para a força, a vida, a sensualidade – e também à prata e ao ouro, que sugerem brilho, luminosidade, importância, perfeição.

Mas, para além da exaltação da beleza física e também espiritual de Lianor, surge a referência à sua posição social humilde e ainda, sobretudo, à sua insegurança, porque ela vai à fonte, não apenas para buscar água, mas para se encontrar, às escondidas, com o seu namorado.

Os elementos bucólicos presentes neste vilancete, escrito em redondilha maior, a medida velha de versos com sete sílabas, bem como a conceção da mulher e do amor, colocam o poema de Camões na linha da poesia trovadoresca medieval.

Sobressai a conceção platónica do amor, assim como uma visão idealizada e estereotipada da mulher, com os cabelos da cor do ouro e as mãos da cor da prata.

Em pleno século XXI, estes códigos de beleza continuam válidos em algumas situações. Mas, em muitos outros contextos, são bem diferentes os atuais padrões de beleza femininos difundidos até à exaustão, a ponto de, por vezes, causarem profundo impacto negativo, em termos de saúde física e mental…

Enfim, tal como conversámos na última semana, “(…) mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.


Sugerimos a escuta do vilancete Descalça vai pera a fonte”, interpretado pela soprano Ana Madalena Moreira, acompanhada ao piano por Lucjan Luc…

A Organização

terça-feira, 19 de novembro de 2024

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

 

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

 

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.

 

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.

Luís de Camões, Lírica, fixação de texto de Hernâni Cidade, Lisboa, Círculo de Leitores, 1980, p. 164.

Neste soneto, o sujeito poético reflete sobre a mudança, um tópico frequente na Renascença, evocando a máxima clássica “tempus fugit” – “o tempo voa”.

Porventura influenciado por um dos grandes filósofos gregos, Heráclito, que defendia que tudo é movimento e está em constante evolução, o eu lírico assinala, ao longo do poema, várias transformações, seja no mundo, seja nas pessoas e nele próprio, nos sentimentos, vontades e interesses:

"(…) mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades."

“No entanto, se as mudanças na Natureza (no seu processo de renovação) assumem um sentido positivo, o mesmo não acontece com as alterações de pendor negativo na vida do sujeito lírico.” Daí que demonstre, no final do soneto, “o seu mais sincero espanto por já não se conseguir reconhecer no que vai mudando, uma vez que até a própria mudança está a modificar-se.”

Face ao carácter inexorável da passagem do Tempo e da efemeridade da vida, “tirania” a que ninguém escapa, resta a memória, uma memória triste, pessimista e amarga de saudade do passado.

“Desta forma, podemos dizer que a tónica do soneto se prende com demonstrar a/o instabilidade/ desconcerto do mundo, ou seja, esclarecer que, enquanto as mudanças da natureza assumem uma tendência previsível (por exemplo, as estações do ano), as mudanças vividas pelas pessoas, além de, muitas vezes, não serem antecipáveis, estão invariavelmente associadas à passagem do tempo” e ao seu carácter imprevisível.

O sujeito poético vive, assim, um estado emocional de conflito, de desagregação, de profunda tristeza e mágoa, provocado, precisamente, “pela ideia de que o universo é dominado pelos paradoxos e pela mudança, que espoletam uma perplexidade e um labirinto interior (sem rumo).”

“Pessimista e atónito para com a sua realidade – que não compreende –, sente-se completamente ludibriado pelo destino e pela fatalidade (fatum). (…) Ou seja, a mudança mais surpreendente é a de que já não se muda como era costume, isto é, verifica a mudança da própria mudança.” (Tiago Ferreira, “’Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades’, de Luís de Camões”, in https://obarrete.com/2020/06/26/mudam-se-as-vontades-luis-de-camoes/, acedido em 15/11/2024).

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” é o título do primeiro álbum de originais de José Mário Branco, editado em 1971, em França, durante os anos de exílio do cantautor.

Vamos ouvir a canção “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, à qual foi apenas acrescentado o refrão “E se todo o mundo é composto de mudança/ troquemos-lhe as voltas, que inda o dia é uma criança.”

A Organização

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

"AQUI NINGUÉM TOCA"

Kiko e a Mão visita escolas do 1.º Ciclo


Na próxima semana, o livro Kiko e a Mão vai interagir com alunos do 1.º ciclo das Escolas Básicas de Entre Ambos-os-Rios, de Crasto e Diogo Bernardes.

Os encontros acontecem no âmbito da celebração do Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual, que, desde 2015, se assinala a 18 de novembro, e são dinamizados por Inês Portocarrero Araújo, da Biblioteca Municipal de Ponte da Barca.

Esta iniciativa da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Ponte da Barca com a colaboração da Biblioteca Municipal, em articulação com a Biblioteca Escolar e o Departamento do 1.º Ciclo, pretende promover o diálogo saudável com as crianças sobre o assunto.

Recorde-se que o livro Kiko e a Mão é uma publicação do Conselho da Europa e foi criado propositadamente para explicar aos mais novos, de forma simples, a regra “Aqui ninguém toca”, a fim de que possam perceber melhor a diferença entre o contacto físico bom e o contacto físico mau.

Eis o cronograma dos encontros:

Dia

Hora

Público-alvo

Local

18 de novembro (segunda)

09.00 H

4º B da EB Diogo Bernardes –  professora Guiomar Fernandes

Biblioteca da EB Diogo Bernardes

09.45 H

4º A da EB Diogo Bernardes – professora Maria do Sameiro Estrela

14.00 H

4º C da EB Diogo Bernardes – professora Liliana Lima

20 de novembro (quarta)

09.00 H

·      3º ano da EB de Crasto – professora Fátima Gomes

·      4º ano da EB de Crasto – professora Sílvia Alves

A definir pelas docentes envolvidas, em articulação com a coordenação de estabelecimento

14.00 H

·      3º ano da EB de E. Ambos-os-Rios – professora Susana Carvalho

·      4º ano da EB de E. Ambos-os-Rios – professora Elisabete Encarnação

A definir pelas docentes envolvidas, em articulação com a coordenação de estabelecimento

Biblioteca Escolar