Nos 98 anos das Aparições
de Nossa Senhora da Paz
Há 100 anos, grassava a I Guerra Mundial. E, nas
trincheiras do conflito, estavam Portugueses, lutavam homens de Ponte da Barca.
Longe, muito longe, de todo este mundo de aflições,
vivia o pequeno Severino Alves. Tinha 10 anos e todo o seu tempo de menino era
ocupado a pastorear os rebanhos, nas redondezas do lugar do Barral, freguesia
de Vila Chã S. João (Ponte da Barca).
No dia 10 de maio de 1917, Severino inicia a
jornada, com a mesma rotina de sempre. Mal o Sol tinha acabado de espreitar nas
alturas do Livramento, já o nosso pastor ia a caminho dos montes.
Nos seus dedinhos de miúdo, corriam as contas do
terço que rezava devotamente, enquanto, com o olhar, tangia o rebanho a caminho
do pasto. Até que, numa ramada, perto da ermida de Santa Marinha, sentiu um
relâmpago... Era um clarão tão forte e tão brilhante, que o menino ficou
estático, impressionado por um grande medo.
Vencida a emoção, deu alguns passos, atravessou um
portelo, e olhou em redor. Severino tentava perceber o que se estava a
passar...
Nesse momento, avistou uma Senhora! Tinha as mãos
postas e o seu rosto era lindo, lindo como nenhum outro. Vestia-se de branco e
um manto azul cobria-lhe a cabeça. Toda ela era cheia de luz e de esplendor!
Fascinado com tamanha beleza da Aparição, o nosso
pastor recuou uns passos e caiu por terra, surpreendido com tal acontecimento.
Ainda exclamou “Jesus Cristo”, mas nesse mesmo momento
a Visão desapareceu...
No dia seguinte, 11 de maio de 1917, uma
sexta-feira, sem que sentisse relâmpago algum, quando atravessava o portelo,
deparou com a mesma Senhora, que estava no mesmo sítio.
Severino caiu de joelhos. Olhou, depois, o rosto
sorridente da Aparição e disse-lhe o que o seu pároco lhe havia aconselhado:
– Quem não falou, ontem, fale hoje...
Então, a voz da Aparição manifestou-se,
tranquilizando-o:
– Não te assustes, menino, sou Eu!
E acrescentou:
– Diz aos pastores do monte que rezem sempre o
terço, que os homens e mulheres rezem o terço todos os dias e cantem A Estrela
do Céu. E as mães que têm os filhos lá fora que rezem também o terço,
cantem A Estrela do Céu e se apeguem Comigo, que Eu hei-de acudir ao mundo e
aplacar a guerra.
E, depois de uma pausa, perante o silêncio espantado
de Severino que apenas respondeu “Sim, Senhora”, a Visão, olhando para uma
ramada, exclamou:
– Que gomos tão lindos, que cachos tão bonitos!
O pastorinho olhou e, quando se voltou, viu que a
extraordinária Aparição já tinha desaparecido.
Uma alegria imensa encheu-lhe a alma. Correu, feliz
por ser protagonista de um acontecimento sobrenatural. Ele queria partilhar tão
grande maravilha com os seus pais e vizinhos!
Centro Mariano
A notícia espalhou-se, de boca em boca. Dois jornais
do Porto difundiram-na, pelo país. As pessoas começaram a acorrer, aos
milhares, vindas das mais diversas terras. Foi assim nos primeiros anos, mas,
com o tempo, a afluência começou a diminuir, a diminuir...
Nem seria de esperar outra coisa, pois, no local,
nem sequer existia uma imagem, muito menos uma capela. A atenção e a devoção
iam-se concentrando em Fátima, onde Nossa Senhora se começara a manifestar a
Lúcia, Francisco e Jacinta, dois dias mais tarde, a 13 de maio do mesmo ano...
E, assim, as aparições da Senhora da Paz, no Barral, quase caíram no
esquecimento.
Quase! Porque, no cinquentenário das aparições, em
1967, a Confraria de Santa Ana decidiu construir uma capela a Nossa Senhora da
Paz. O templo foi inaugurado, a 15 de setembro de 1969.
Seguiu-se a construção de uma cripta, cujo altar é
formado por um grande bloco de quartzo cristalizado, o maior existente em
Portugal, com cerca de três toneladas. São também erigidos monumentos ao
Sagrado Coração de Jesus, ao Anjo da Guarda de Portugal e à Paz, todos
constituídos por um pedestal de quartzo cristalizado.
O Cónego Professor Doutor Avelino de Jesus da Costa,
também nascido no Barral e contemporâneo do pastorinho, é o grande mentor de
todo este projeto que integra ainda o Santuário de Nossa Senhora da Paz,
edifício mais recente.
Em 1982, foram inaugurados a Biblioteca e o Museu do
Quartzo que apresenta uma rica coleção de belos cristais de quartzo, quase
todos extraídos na própria freguesia.
Hoje, este é um centro religioso e turístico com
algum movimento, tal a beleza do cenário que se pode contemplar no local. O dia
maior é o da peregrinação, que se realiza no último domingo de maio.
A caminho do centenário, importa avivar a nossa
história e cultivar a nossa identidade. Porque não há futuro sem um presente
que honre e valorize o passado…
Prof. Luís Arezes