quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

A CANTIGA É UMA ARMA

“Os Vampiros” (1963)

Com o início do 2.º período letivo, retomamos o apontamento “A Cantiga é uma Arma”, assim avivando memórias de poemas, cantigas e histórias que marcaram o período do fim do Estado Novo e os primeiros tempos da nossa Democracia.

Na edição desta semana, a nossa atenção vai para "Os Vampiros", uma canção de José Afonso (1929-1987), originalmente gravada em 1963, no disco “Baladas de Coimbra”.

Juntamente com "Trova do Vento que Passa" (poema de Manuel Alegre, música de António Portugal e interpretação de Adriano Correia de Oliveira), constitui um marco fundamental da canção de intervenção e de resistência antifascista. É mesmo considerado um dos temas fundadores do canto político em Portugal, “assumido como instrumento de combate cultural e cívico em tempo de censura e um símbolo da resistência contra o fascismo. Estava lá tudo dito e, por isso, não podia ser dito.”

Numa edição especial de 2009 da revista Blitz, “Os Vampiros” foi escolhida como uma das melhores canções da década de 60.

Segundo Albano Viseu, no seu estudo A Simbologia das Palavras e a revolução silenciosa: os sentidos implícitos nas canções de Zeca Afonso (Chiado Editora, 2014), “José Afonso tentou comunicar valores e ideais, utopias e mensagens libertadoras, ansiou por um Portugal sem tabus, sem ter de calar o valor da liberdade, pelo que se tornou num vulto histórico, num modelo de afronta na luta contra o regime. As suas canções premeiam uma veia criadora, intensamente preocupada com causas humanas e sociais e são exemplo de ação e de luta constante, objetivando provocar a agitação e a mudança, contra o marasmo fomentado por um regime que necessitava de ser questionado e, por fim, substituído.” 

Acrílico de Josefa Moura.

Notável grito de Cidadania, a mensagem de Zeca Afonso em "Os Vampiros” permanece intemporal. Mas a coragem do chamado trovador da Liberdade teve um preço alto. O regime ditatorial não lhe perdoou, condenando-o à exclusão.

Em entrevista ao semanário “Labor.pt”, Arnaldo Trindade, fundador da editora Orfeu, recorda que, quando saiu a balada “Os Vampiros”, foi “proibidíssima. Depois disso, o José Afonso foi excluído do ensino, não tinha possibilidades de ter meios para viver e ninguém o quis gravar. Ninguém. Ele foi a todas as editoras”.

Desde o seu lançamento, em 1963, o tema conheceu múltiplas versões, entre elas a da banda de rock UHF, editada em 2014, por ocasião das comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos.

Vamos, então, ouvir – e cantar – “Os Vampiros”, com José Afonso…

A Organização

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