segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

OPINIÕES DE SEGUNDA

Aborto – sim ou não?

É da interrupção voluntária da gravidez que Elsa Peixoto fala na crónica desta segunda, a primeira de 2022.

Na sua perspetiva, em Portugal “a mulher permanece refém dos papéis que lhe são tradicionalmente atribuídos e a emancipação desses costumes continua a exigir um constante confronto com estruturas mentais e culturais profundamente enraizadas.”

Para ler e tomar posição…

Aborto - Sim ou Não?

O que é o aborto? “Aborto” é o termo utilizado para designar a interrupção da gravidez, quando ainda não há viabilidade do feto. Realizado precocemente, em serviços de saúde legais e autorizados, é um ato médico seguro e com reduzidos riscos.

E quais são os motivos que levam uma mulher a abortar? As razões mais frequentes são o risco para a saúde física ou psíquica da mulher grávida, uma grave doença ou malformação do feto, uma gravidez resultante de violação, sendo que, nestes casos, a interrupção voluntária da gravidez está contemplada na lei. Contudo, são muito mais as causas.

Na minha opinião, o aborto é um ato que deve continuar a ser legalizado mundialmente, porque considero ser um direito das mulheres, para que consigamos ter controlo para decidir o que é melhor para cada uma de nós, tanto a nível físico como psicológico.

A meu ver, a ilegalidade da interrupção da gravidez não desencadeia nada de benéfico, porque só por o aborto ser ilegal não significa que deixe de acontecer. Muitas mulheres recorrem a outras opções, como as clínicas clandestinas e os medicamentos abortivos sem orientação médica ou sem eficácia comprovada. Estes procedimentos realizados de modo não seguro podem comprometer a saúde da mulher. Ou seja, o aborto legal protege a vida da mulher, e o aborto mal feito pode ter severas consequências. Já para não falar de que o aborto é a consequência de um problema maior, a violência sexual. Estima-se que 94% das mulheres que procuram ajuda foram vítimas de violação, e 29% destas tinham entre 12 e 19 anos.

Posto isto, acho que a luta pela legalização do aborto é uma luta pelos Direitos Humanos. Os Direitos Sexuais e os Direitos Reprodutivos permitem acesso a informações, educação, métodos contracetivos e serviços médicos oportunos. Assim, estes Direitos deveriam ser universais.

Num país ainda marcado pela herança da ditadura salazarista e pelo peso da Igreja Católica, aquilo que deveria ser um direito inquestionável – a soberania da mulher sobre o seu próprio corpo, a sua sexualidade – continua a não ser consensual. Do mesmo modo, a perceção sobre a mulher continua marcada pela maternidade, como se essa fosse, à partida e por defeito, a sua “condição natural”. A mulher permanece refém dos papéis que lhe são tradicionalmente atribuídos e a emancipação desses costumes continua a exigir um constante confronto com estruturas mentais e culturais profundamente enraizadas, que invisibilizam modos de repressão naturalizados.

Elsa Peixoto, 12.º ano.

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