Aborto – sim ou não?
É da
interrupção voluntária da gravidez que Elsa Peixoto fala na crónica desta
segunda, a primeira de 2022.
Na sua
perspetiva, em Portugal “a mulher permanece refém dos papéis que lhe são
tradicionalmente atribuídos e a emancipação desses costumes continua a exigir
um constante confronto com estruturas mentais e culturais profundamente
enraizadas.”
Para ler e
tomar posição…
Aborto - Sim ou Não? |
O que é o
aborto? “Aborto” é o termo utilizado para designar a interrupção da gravidez,
quando ainda não há viabilidade do feto. Realizado precocemente, em serviços de
saúde legais e autorizados, é um ato médico seguro e com reduzidos riscos.
E quais são
os motivos que levam uma mulher a abortar? As razões mais frequentes são o
risco para a saúde física ou psíquica da mulher grávida, uma grave doença ou
malformação do feto, uma gravidez resultante de violação, sendo que, nestes
casos, a interrupção voluntária da gravidez está contemplada na lei. Contudo,
são muito mais as causas.
Na minha
opinião, o aborto é um ato que deve continuar a ser legalizado mundialmente,
porque considero ser um direito das mulheres, para que consigamos ter controlo
para decidir o que é melhor para cada uma de nós, tanto a nível físico como
psicológico.
A meu ver,
a ilegalidade da interrupção da gravidez não desencadeia nada de benéfico,
porque só por o aborto ser ilegal não significa que deixe de acontecer. Muitas
mulheres recorrem a outras opções, como as clínicas clandestinas e os
medicamentos abortivos sem orientação médica ou sem eficácia comprovada. Estes
procedimentos realizados de modo não seguro podem comprometer a saúde da
mulher. Ou seja, o aborto legal protege a vida da mulher, e o aborto mal feito
pode ter severas consequências. Já para não falar de que o aborto é a
consequência de um problema maior, a violência sexual. Estima-se que 94% das
mulheres que procuram ajuda foram vítimas de violação, e 29% destas tinham
entre 12 e 19 anos.
Posto isto,
acho que a luta pela legalização do aborto é uma luta pelos Direitos Humanos.
Os Direitos Sexuais e os Direitos Reprodutivos permitem acesso a informações,
educação, métodos contracetivos e serviços médicos oportunos. Assim, estes
Direitos deveriam ser universais.
Num país
ainda marcado pela herança da ditadura salazarista e pelo peso da Igreja
Católica, aquilo que deveria ser um direito inquestionável – a soberania da
mulher sobre o seu próprio corpo, a sua sexualidade – continua a não ser consensual.
Do mesmo modo, a perceção sobre a mulher continua marcada pela maternidade,
como se essa fosse, à partida e por defeito, a sua “condição natural”. A mulher
permanece refém dos papéis que lhe são tradicionalmente atribuídos e a
emancipação desses costumes continua a exigir um constante confronto com
estruturas mentais e culturais profundamente enraizadas, que invisibilizam
modos de repressão naturalizados.
Elsa
Peixoto, 12.º ano.
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