Fernão de Magalhães: 500 anos da Partida
A vida de Fernão de Magalhães é uma
verdadeira aventura, marcada pelo signo da partida…
Foi a partida, por volta de 1492, ainda
menino e moço, da sua terra natal, muito provavelmente a Terra da Nóbrega, para
a capital do reino, a Lisboa das Descobertas, dal mil e uma partidas e de
muitas chegadas.
Foi a partida, em 1505, para o Oriente, na
armada de D. Francisco de Almeida, por lá participando em alguns dos
acontecimentos mais relevantes da afirmação lusa naquelas paragens longínquas.
Foi a partida, em 1511, de Malaca em direção
às Ilhas das Especiarias, na armada comandada por António de Abreu, integrando
o grupo dos primeiros europeus que alcançaram as Molucas do Sul e navegaram,
sem o saber, as águas do Mar do Sul, depois chamado Oceano Pacífico.
Foi a partida, em 1513, para Azamor, no Norte
de África, onde foi quadrilheiro-mor. E a partida amarga de, injustamente, o
acusarem de negócios desonestos. E ainda a partida de ser ferido em combate,
ficando a coxear para o resto da vida.
Foi, depois, a negra partida de D. Manuel I.
O monarca Venturoso recusou-lhe o
aumento da moradia, ou ordenado a que tinha direito como cavaleiro da Casa
Real, assim como o comando de uma armada às Molucas pela rota do Oceano Índico,
ao serviço de Portugal.
Foi, então, a partida, em 1517, para o outro
lado da fronteira, a partida a caminho de Sevilha, o grande centro da
preparação das navegações espanholas.
Foi a partida para Valhadolide e para
Barcelona, ao encontro de Carlos I, futuro imperador Carlos V, para negociar o
apoio ao seu projeto de chegar às Ilhas das Especiarias, agora navegando para
Ocidente e contornando o continente americano.
Foi a partida da
sua vida! A
partida de Sevilha da “Armada das Molucas”, a 10 de agosto de 1519, rio
Guadalquivir abaixo, e a partida para o alto mar, em Sanlúcar de Barrameda, a
20 de setembro do mesmo ano.
E foram tantas as partidas e as paragens por
esses mares além, “para lá do fim do mundo”. Nas Canárias, na Baía de Santa
Luzia (Baía de Guanabara, Rio de Janeiro), no estuário do rio da Prata, na Baía
de São Julião (Patagónia, Argentina), no estuário de Santa Cruz, pelas
labirínticas, gélidas e assustadoras águas da passagem desejada, a que chamaram
Canal de Todos-os-Santos e que para a posteridade ficou como Estreito de
Magalhães.
E foi a partida para a heroica travessia do
mar que batizaram de Pacífico. Mais de 100 dias sem pisar terra firme, numa
luta pela sobrevivência, até que, a 6 de março de 1521, chegaram a Guam.
E foi a partida daquela a que designaram Ilha
dos Ladrões. E de Homonhon, já no arquipélago a que deram o nome de São Lázaro
e que, pouco tempo depois, passou a Filipinas – em honra do príncipe Filipe. E
de Limasawa e de Cebu, grande centro comercial da região.
E foi a partida para a Ilha de Mactan, para
impor a sua autoridade ao chefe local, que se recusava a prestar vassalagem ao
rei de Cebu, que já se declarara súbdito de Carlos V e se convertera.
Era o dia 27 de abril de 1521. Fernão de
Magalhães ignorou os apelos e conselhos e mobilizou um contingente de apenas
uns 60 homens contra as forças de Lapu-Lapu, que se calculou serem em número
superior a 1500.
Como que num gesto sacrificial, recusou ainda
o auxílio das forças aliadas de Humabon e escolheu um local inadequado para o
desembarque, perdendo-se, assim, a proteção da retaguarda, com o poder de fogo
da armada.
Demasiados erros fatais!
Fernão de Magalhães caiu morto no areal da
Ilha de Mactan.
Mesmo na hora suprema, mostrou-se igual a si próprio: determinado, heroico. A
última imagem que os companheiros guardaram dele, combatendo ainda na praia,
foi a de um líder a olhar para trás, para verificar se os seus homens já
estavam a salvo, na retirada nos batéis. Magalhães tombou a bater-se pelos seus…
Foi a última partida que a vida lhe pregou. A
partida suprema e definitiva.
Era o dia 27 de abril do ano da graça de
1521.
Era um sábado!
O dia da última partida de Magalhães!
Biblioteca Escolar
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