Aparições de Nossa Senhora da Paz
Há
100 anos, no verão de 1914, começou a I Guerra Mundial. Em pouco tempo, os
horrores do conflito espalharam-se por todo o lado! E, no centro do combate,
estavam Portugueses, lutavam homens de Ponte da Barca.
Longe,
muito longe, de todo este mundo de aflições, vivia o pequeno Severino Alves.
Tinha dez anos e todo o seu tempo de menino era ocupado a pastorear os
rebanhos, nas redondezas do lugar do Barral, freguesia de Vila Chã S. João
(Ponte da Barca).
No
dia 10 de maio de 1917, Severino inicia a jornada, com a mesma rotina de
sempre. Mal o Sol tinha acabado de espreitar nas alturas do Livramento, já o
nosso pastor ia a caminho dos montes.
Nos
seus dedinhos de miúdo, corriam as contas do terço que rezava devotamente, enquanto,
com o olhar, tangia o rebanho a caminho do pasto. Até que, numa ramada, perto
da ermida de Santa Marinha, sentiu um relâmpago... Era um clarão tão forte e
tão brilhante, que o menino ficou estático, impressionado por um grande medo.
Vencida
a emoção, deu alguns passos, atravessou um portelo, e olhou em redor. Severino
tentava perceber o que se estava a passar...
Nesse
momento, avistou uma Senhora! Tinha as mãos postas e o seu rosto era lindo,
lindo como nenhum outro. Vestia-se de branco e um manto azul cobria-lhe a
cabeça. Toda ela era cheia de luz e de esplendor!
Fascinado
com tamanha beleza da Aparição, o nosso pastor recuou uns passos e caiu por
terra, surpreendido com tal acontecimento.
Ainda
exclamou “Jesus Cristo”, mas nesse mesmo momento a Visão desapareceu...
No
dia seguinte, 11 de maio de 1917, uma sexta-feira, sem que sentisse relâmpago
algum, quando atravessava o portelo, deparou com a mesma Senhora, que estava no
mesmo sítio.
Severino
caiu de joelhos. Olhou, depois, o rosto sorridente da Aparição e disse-lhe o
que o seu pároco lhe havia aconselhado:
–
Quem não falou, ontem, fale hoje...
Então,
a voz da Aparição manifestou-se, tranquilizando-o:
– Não
te assustes, menino; sou Eu!
E
acrescentou: – Diz aos pastores do monte que rezem sempre o terço, que os
homens e mulheres rezem o terço todos os dias e cantem a Estrela do Céu. E as mães que têm os filhos lá fora que rezem
também o terço, cantem a Estrela do Céu
e se apeguem Comigo, que eu hei-de acudir ao mundo e aplacar a guerra.
E,
depois de uma pausa, perante o silêncio espantado de Severino que apenas
respondeu “Sim, Senhora”, a Visão, olhando para uma ramada, exclamou:
– Que
gomos tão lindos, que cachos tão bonitos!
O
pastorinho olhou e, quando se voltou, viu que a extraordinária Aparição já
tinha desaparecido.
Uma
alegria imensa encheu-lhe a alma. Correu, feliz por ser protagonista de um
acontecimento sobrenatural. Ele queria partilhar tão grande maravilha com os
seus pais e vizinhos!
A
notícia espalhou-se, de boca em boca. Dois jornais do Porto difundiram-na, pelo
país. As pessoas começaram a acorrer, aos milhares, vindas das mais diversas
terras. Foi assim nos primeiros anos, mas, com o tempo, a afluência começou a
diminuir, a diminuir...
Nem
seria de esperar outra coisa, pois, no local, nem sequer existia uma imagem,
muito menos uma capela. A atenção e a devoção iam-se concentrando em Fátima,
onde Nossa Senhora se começara a manifestar a Lúcia, Francisco e Jacinta, dois
dias mais tarde, a 13 de maio do mesmo ano... E, assim, as aparições da Senhora
da Paz, no Barral, quase caíram no esquecimento.
Quase!
Porque, no cinquentenário das aparições, em 1967, a Confraria de Santa Ana
decidiu construir uma capela a Nossa Senhora da Paz. O templo foi inaugurado, a
15 de setembro de 1969.
Seguiu-se
a construção de uma cripta, cujo altar é formado por um grande bloco de quartzo
cristalizado, o maior existente em Portugal, com cerca de três toneladas. São
também erigidos monumentos ao Sagrado Coração de Jesus, ao Anjo da Guarda de
Portugal e à Paz, todos constituídos por um pedestal de quartzo cristalizado.
O
Cónego Avelino de Jesus da Costa, também nascido no Barral e contemporâneo do
pastorinho, é o grande mentor de todo este projeto que integra ainda o
Santuário de Nossa Senhora da Paz, edifício mais recente.
Em
1982, foram inaugurados a Biblioteca e o Museu do Quartzo que apresenta uma
rica coleção de belos cristais de quartzo, quase todos extraídos na própria
freguesia.
Hoje,
este é um centro religioso e turístico com algum movimento, tal a beleza do
cenário que se pode contemplar no local. O dia maior é o da peregrinação, que
se realiza no último domingo de maio.
Prof. Luís Arezes
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