quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

A CANTIGA É UMA ARMA

“Portugal Resiste”

Na edição desta semana de “A Cantiga é uma Arma”, visitamos um cantor sem grande visibilidade pública nos tempos que correm, mas que é considerado um dos primeiros, ou mesmo o primeiro músico de intervenção.

Num artigo no jornal “Público” (10/09/2020), Nuno Pacheco não tem qualquer dúvida, considerando que “o canto de exílio português tem um pioneiro e o seu nome é Luís Cília”.

De facto, não é possível falar sobre exílio e canções de protesto sem mencionar Luís Cília, um compositor e intérprete nascido em Angola, mas que veio para Portugal em 1959, para prosseguir os seus estudos.

Cinco anos depois, em 1964, acabaria por se exilar em Paris, apenas regressando uma década mais tarde, a 30 de abril de 1974, no avião em que vieram também umas quatro dezenas de exilados políticos, entre outros, Álvaro Cunhal e José Mário Branco.

Neste período de 10 anos, realizou recitais junto das comunidades emigrantes dos “bidonvilles” parisienses e em quase todos os países da Europa, denunciando a guerra colonial e a falta de Liberdade no nosso país. Na altura, os seus discos entravam em Portugal, clandestinamente, e animavam os convívios da Resistência.

No ano em que Luís Cília chega a Paris, 1964, chega também à capital francesa Manuel Alegre. Numa entrevista a João Céu e Silva, publicada no “Diário de Notícias” (22/02/2018), Cília recorda que conheceu o poeta e resistente antifascista “num café do Quartier Latin” e que, de seguida, foram “para o quartinho onde eu vivia, num sétimo andar no Boulevard Sebastopol, onde ele ia dizendo os poemas e eu musicava.”

E assim nasce o seu primeiro disco, “Portugal-Angola: Chants de Lutte” (1964), uma gravação que em boa medida é facilitada pela amizade que, entretanto, havia travado com a cantora Collete Magny, que o encaminhou para a famosa editora Chant du Monde.

Trata-se de um disco que é uma afirmação da Liberdade e um protesto veemente contra a guerra colonial. A canção “Exílio”, cuja letra é da autoria de Manuel Alegre, fala por si:

Venho dizer-vos que não tenho medo,

A verdade é mais forte do que as algemas,

Venho dizer-vos que não há degredo

Quando se traz a alma cheia de poemas.

 

Pode ser uma ilha ou uma prisão,

Em qualquer lado eu estou presente,

Tomo o navio da canção

E vou direto ao coração de toda a gente.

No ano seguinte, em 1965, Luís Cília publica novo álbum, "Portugal Resiste". Com música simples, acompanhando a voz com apenas o som de uma guitarra tocada pelo próprio cantor, esta canção com o mesmo nome do disco tornar-se-ia um tema emblemático de combate contra a opressão, a repressão, a guerra colonial, a ditadura.

Vamos, então, ouvir – e cantar – “Portugal Resiste”, um poema de Manuel Alegre, musicado e interpretado por Luís Cília…

A Organização

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