“Portugal
Resiste”
Na
edição desta semana de “A Cantiga é uma Arma”, visitamos um cantor sem grande
visibilidade pública nos tempos que correm, mas que é considerado um dos
primeiros, ou mesmo o primeiro músico de intervenção.
Num
artigo no jornal “Público” (10/09/2020), Nuno Pacheco não tem qualquer dúvida,
considerando que “o canto de exílio português tem um pioneiro e o seu nome é
Luís Cília”.
De
facto, não é possível falar sobre exílio e canções de protesto sem mencionar Luís
Cília, um compositor e intérprete nascido em Angola, mas que veio para Portugal
em 1959, para prosseguir os seus estudos.
Cinco
anos depois, em 1964, acabaria por se exilar em Paris, apenas regressando uma
década mais tarde, a 30 de abril de 1974, no avião em que vieram também umas
quatro dezenas de exilados políticos, entre outros, Álvaro Cunhal e José Mário
Branco.
Neste
período de 10 anos, realizou recitais junto das comunidades emigrantes dos
“bidonvilles” parisienses e em quase todos os países da Europa, denunciando a
guerra colonial e a falta de Liberdade no nosso país. Na altura, os seus discos
entravam em Portugal, clandestinamente, e animavam os convívios da Resistência.
No
ano em que Luís Cília chega a Paris, 1964, chega também à capital francesa
Manuel Alegre. Numa entrevista a João Céu e Silva, publicada no “Diário de
Notícias” (22/02/2018), Cília recorda que conheceu o poeta e resistente
antifascista “num café do Quartier Latin” e que, de seguida, foram “para o
quartinho onde eu vivia, num sétimo andar no Boulevard Sebastopol, onde ele ia
dizendo os poemas e eu musicava.”
E
assim nasce o seu primeiro disco, “Portugal-Angola: Chants de Lutte” (1964),
uma gravação que em boa medida é facilitada pela amizade que, entretanto, havia
travado com a cantora Collete Magny, que o encaminhou para a famosa editora
Chant du Monde.
Trata-se
de um disco que é uma afirmação da Liberdade e um protesto veemente contra a
guerra colonial. A canção “Exílio”, cuja letra é da autoria de Manuel Alegre,
fala por si:
Venho
dizer-vos que não tenho medo,
A
verdade é mais forte do que as algemas,
Venho
dizer-vos que não há degredo
Quando
se traz a alma cheia de poemas.
Pode
ser uma ilha ou uma prisão,
Em
qualquer lado eu estou presente,
Tomo
o navio da canção
E vou direto ao coração de toda a gente.
No
ano seguinte, em 1965, Luís Cília publica novo álbum, "Portugal
Resiste". Com música simples, acompanhando a voz com apenas o som de uma
guitarra tocada pelo próprio cantor, esta canção com o mesmo nome do disco
tornar-se-ia um tema emblemático de combate contra a opressão, a repressão, a
guerra colonial, a ditadura.
Vamos,
então, ouvir – e cantar – “Portugal Resiste”, um poema de Manuel Alegre, musicado e interpretado por Luís Cília…
A Organização
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