Saber dizer Obrigado!
Damos tudo como adquirido e cultivamos "A arte de só estar bem onde não se
está". Quer dizer, “ambicionámos muito e agradecemos pouco”.
Na crónica desta segunda, a Ana Rita Zamith
sublinha que “as situações adversas que hoje enfrentamos ensinam-nos a dar
valor àquilo que tínhamos como garantido”. E que é muito importante saber dizer
Obrigado!.
Para ler… e pensar.
Saber dizer Obrigado! – Se alimentarmos um cão com comida e amor, ele atinge, automaticamente, o auge da sua felicidade, sendo capaz de proporcionar alegria ao outro, ainda que esteja condenado a viver apenas cerca de dezassete anos de idade.
Nós, por outro lado, somos teimosa e
irremediavelmente ingratos. Ambicionámos muito e agradecemos pouco. Seria de
esperar que uma espécie tão evoluída tecnologicamente fosse capaz de
protagonizar simples atos de valorização e agradecimento. Contudo, feliz ou
infelizmente, dizer um mero “obrigado” parece-nos tão complicado como atingir
todos os nossos sonhos e ambições.
Estou longe de insinuar que a ambição se assemelha
a um composto tóxico que nos destruirá, não me interpretem mal: sonhar alto
assemelha-se mais a oxigénio – é necessário, crucial até para que trabalhemos
pelos nossos objetivos e para que, de facto, os alcancemos.
A meu ver, o problema do ser humano está em não
se contentar apenas com o oxigénio: não precisa, mas quer também o flúor, o cloro
e todos os outros elementos da Tabela Periódica.
Sejamos ambiciosos, mas também gratos pelo que
temos. Valorizemos os pequenos atos. As situações adversas que hoje enfrentamos
ensinam-nos a dar valor àquilo que tínhamos como garantido.
Porque ontem discutiste com a tua amiga,
discussão que consideraste essencial e recusaste-te a deixar o orgulho de lado;
hoje só queres poder abraçá-la. Ontem queixaste-te da ansiedade que a escola te
provocava; hoje desejas desalmadamente lá estar. Ontem estiveste no telemóvel o
dia todo; hoje suspiras por sair à rua. Ontem querias umas sapatilhas novas;
hoje queres que a tua avó tenha saúde. Ontem não gostavas do teu corpo; hoje
ambicionas que ele não deixe o vírus entrar. Ontem desvalorizaste as quatro
estações do ano; hoje, que só há duas, sonhas em voltar a cheirar uma flor ou a
comer uma castanha. Ontem mal sorriste; hoje anseias por ver todos os sorrisos
que se escondem por detrás de uma mera (mas impactante) máscara.
Confesso que o dilema do “só estou bem aonde não estou” irrita-me profundamente, porque as pessoas só valorizam quando perdem, só agradecem quando já é tarde, só se apercebem que tomaram o amanhã por garantido, quando, inesperadamente, o Amanhã nos mostra que a vida é efémera e que nada nos garante.
Ana Rita Zamith, 11.º ano.
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