segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

OPINIÕES DE SEGUNDA

Saber dizer Obrigado!

Damos tudo como adquirido e cultivamos "A arte de só estar bem onde não se está". Quer dizer, “ambicionámos muito e agradecemos pouco”.

Na crónica desta segunda, a Ana Rita Zamith sublinha que “as situações adversas que hoje enfrentamos ensinam-nos a dar valor àquilo que tínhamos como garantido”. E que é muito importante saber dizer Obrigado!.

Para ler… e pensar.

"A arte de só estar bem onde não se está". 

Saber dizer Obrigado! – Se alimentarmos um cão com comida e amor, ele atinge, automaticamente, o auge da sua felicidade, sendo capaz de proporcionar alegria ao outro, ainda que esteja condenado a viver apenas cerca de dezassete anos de idade.

Nós, por outro lado, somos teimosa e irremediavelmente ingratos. Ambicionámos muito e agradecemos pouco. Seria de esperar que uma espécie tão evoluída tecnologicamente fosse capaz de protagonizar simples atos de valorização e agradecimento. Contudo, feliz ou infelizmente, dizer um mero “obrigado” parece-nos tão complicado como atingir todos os nossos sonhos e ambições.

Estou longe de insinuar que a ambição se assemelha a um composto tóxico que nos destruirá, não me interpretem mal: sonhar alto assemelha-se mais a oxigénio – é necessário, crucial até para que trabalhemos pelos nossos objetivos e para que, de facto, os alcancemos.

A meu ver, o problema do ser humano está em não se contentar apenas com o oxigénio: não precisa, mas quer também o flúor, o cloro e todos os outros elementos da Tabela Periódica.

Sejamos ambiciosos, mas também gratos pelo que temos. Valorizemos os pequenos atos. As situações adversas que hoje enfrentamos ensinam-nos a dar valor àquilo que tínhamos como garantido.

Porque ontem discutiste com a tua amiga, discussão que consideraste essencial e recusaste-te a deixar o orgulho de lado; hoje só queres poder abraçá-la. Ontem queixaste-te da ansiedade que a escola te provocava; hoje desejas desalmadamente lá estar. Ontem estiveste no telemóvel o dia todo; hoje suspiras por sair à rua. Ontem querias umas sapatilhas novas; hoje queres que a tua avó tenha saúde. Ontem não gostavas do teu corpo; hoje ambicionas que ele não deixe o vírus entrar. Ontem desvalorizaste as quatro estações do ano; hoje, que só há duas, sonhas em voltar a cheirar uma flor ou a comer uma castanha. Ontem mal sorriste; hoje anseias por ver todos os sorrisos que se escondem por detrás de uma mera (mas impactante) máscara.

Confesso que o dilema do “só estou bem aonde não estou” irrita-me profundamente, porque as pessoas só valorizam quando perdem, só agradecem quando já é tarde, só se apercebem que tomaram o amanhã por garantido, quando, inesperadamente, o Amanhã nos mostra que a vida é efémera e que nada nos garante.

Ana Rita Zamith, 11.º ano. 

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