sábado, 13 de junho de 2020


Celebrando o 132.º aniversário 
de Fernando Pessoa



Fernando Pessoa nasceu há 132 anos, a 13 de junho de 1888.
Assinalamos esta data com dois excertos dos heterónimos Alberto Caeiro e Ricardo Reis, respetivamente, que sublinham a importância de nascermos “a cada momento / Para a eterna novidade do Mundo…”, sabendo colher e amar o presente: “Este é o dia, / Esta é a hora, este o momento, isto / É quem somos, e é tudo.” 



O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

[…] Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
                        Alberto Caeiro, 08-03-1914

“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor) Lisboa: Ática, 1946 (10.ª ed., 1993), p. 24.



Uns, com os olhos postos no passado,
Veem o que não veem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, veem
O que não pode ver-se.

Porque tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.


Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
                        Ricardo Reis, 28-08-1933
Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994), p. 154.

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