“E depois do adeus” (1974)
A uma semana da passagem dos 50 anos da Revolução
dos Cravos, a edição 24 de “A Cantiga é uma Arma” dedica a sua atenção àquela
que funcionou como primeira senha do Golpe de Estado.
Falamos de "E depois do adeus", uma canção
interpretada por Paulo de Carvalho, que venceu a décima segunda edição do
Grande Prémio TV da Canção, atual Festival RTP da Canção, realizada a 7 de
março de 1974.
Com a sua transmissão pelos Emissores Associados de
Lisboa, às 22 horas e 55 minutos, do dia 24 de abril, era dado o primeiro sinal
para as tropas se prepararem e estarem a postos.
O sinal de saída dos quartéis iria para o ar cerca
de uma hora e meia depois, mais precisamente, às 00h20m, quando a Rádio
Renascença emitiu a canção “Grândola, vila morena”, de Zeca Afonso, esta, sim,
uma música claramente política e de um autor proibido.
A razão da escolha de "E depois do adeus"
é clara: em primeiro lugar, porque não tinha conteúdo político e, sobretudo,
porque, à época, era muito popular por ter acabado de vencer o Festival RTP da
Canção. Ao não levantar suspeitas, funcionou como primeiro teste, deixando em
aberto a possibilidade de as operações serem canceladas se, entretanto, os
líderes do MFA concluíssem que não havia condições efetivas para avançar com a Revolução.
Embora o título, em retrospetiva, pareça remeter
para o adeus ao regime do Estado Novo, a canção em si é um tema de amor sem
conteúdo político, ao contrário, por exemplo, da vencedora do ano anterior,
“Tourada”, com Fernando Tordo, de que falamos na edição 17 de “A Cantiga é uma
Arma”, a 15 de fevereiro.
Segundo o próprio Paulo de Carvalho, a música foi
composta por José Calvário “em viagens de avião” e o poema “são bocadinhos de
cartas que o José Niza escrevia à mulher”, quando estava na tropa, em Angola”,
durante a guerra do Ultramar.
Esta passagem fala por si:
“Quis saber quem sou,
O que faço aqui,
Quem me abandonou,
De quem me esqueci.
Perguntei por mim,
Quis saber de nós,
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.”
A uma semana dos 50 anos do 25 de Abril, vamos ouvir – e cantar – “E depois do adeus”, com Paulo de Carvalho.
A Organização
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