quinta-feira, 16 de novembro de 2023

A CANTIGA É UMA ARMA

“Canta, canta, amigo, canta”

A caminho dos 50 anos do “25 de Abril”, continuamos a dar voz ao apontamento “A Cantiga é uma Arma”.

Semana a semana, recuperamos uma canção que tenha marcado essa época de transição do Estado Novo para a Liberdade e a Democracia.

Na edição 6 desta iniciativa, vamos ao encontro de um tema que ficou no imaginário popular, antes e depois do “25 de Abril”.

Apesar de, atualmente, estar praticamente esquecida, tal como o seu autor, António Macedo, “Erguer a voz e cantar” (ou “Canta, canta, amigo, canta”) é uma canção-chave dos “filhos da madrugada”.

Nos últimos anos do Estado Novo, não havia reunião, convívio, passeio, em que não se fizesse ouvir o “canta, canta, amigo, canta, / Vem cantar a nossa canção, / Tu sozinho não és nada, / Juntos temos o mundo na mão”.

Trata-se, de facto, de uma balada considerada por muitos como um hino de resistência, que faz parte da memória coletiva, na medida em que marcou uma geração e uniu muita gente, contribuindo para o aprofundamento do espírito de luta, nos anos que antecederam a Revolução dos Cravos.

Com uma mensagem muito forte de apelo à entreajuda e à solidariedade, a canção exalta ainda o sentido cívico da participação ativa (“Erguer a voz e cantar”…, por oposição à fraqueza de quem se limita a “Viver sempre a esperar”) e semeia a esperança “dum novo dia”: “Não vás ao sabor do vento / Aprende a canção da esperança / Vem semear tempestades / Se queres colher a bonança.”

O autor deste tema emblemático é António Macedo (1946-1999), nome que se destacou pela força das suas canções e pela sua ação interventiva, antes e durante a Revolução.

Com uma discografia curta, a sua música é simples e direta, para o contexto da época, destacando-se do seu primeiro disco, de 1970, o tema "Erguer a voz e cantar", que ficou no imaginário popular antes e depois do “25 de Abril”.

O jornalista Mário Contumélias, reportando para a revista “Cinéfilo” de 6 de abril de 1974 o I Encontro da Canção Portuguesa, que se realizara a 30 de março, escrevia: “Fosse lá porque fosse, naquela noite, no Coliseu, senti-me. E isso não nos acontece todos os dias. Isso é importante!”.

“Estavam lá, não sei se já vos disse, 5 mil pessoas. Eram 10 horas, passavam 30 minutos da hora prevista para o começo do espetáculo. Cantava-se em coro ‘Canta, canta, amigo, canta’… Era assim que os 5 mil pediam que o espetáculo, também ele, começasse.”

Dir-se-ia que aquela noite, de finais de março de 1974, já fazia antever o que, umas três semanas depois, viria a acontecer….

Vamos lá, então, ouvir – e cantar – “Canta,canta, amigo, canta”, de António Macedo…

A Organização

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