“Aquele inverno” da Guerra
Colonial
Depois de, na última semana, termos apresentado a
“Cantata da Paz”, um poema de Sophia de Mello Breyner interpretado por
Francisco Fanhais, a rubrica “A Cantiga é uma Arma” dedica hoje a sua atenção
ao tema “Aquele inverno”.
Numa outra perspetiva, continuamos a falar da
guerra e do desejo da Paz, continuamos a trazer para análise a questão da
Guerra Colonial.
Mais de uma década depois do termo dos conflitos
armadas nas antigas colónias em África, a banda pop-rock “Delfins” retomou o
tema, com a canção “Aquele inverno”, da autoria de Miguel Ângelo e Fernando
Cunha.
Inserida no álbum “U Outro Lado Existe”, de 1988, a
canção aviva memórias trágicas, recorda traumas de um coração gelado com a
“imagem / Daquele inverno / Naquele inferno”, que se teme nunca venha a “ter um
fim”…
E o inferno a que a música se refere,
metaforicamente, é o drama de soldados perdidos “Em terras do Ultramar / Por
obrigação”, isto é, jovens a “Combater a selva sem saber porquê”, de tal forma
que “quem regressou / Guarda a sensação / Que lutou numa guerra sem razão”.
“Para eles aquele inverno / Será sempre o mesmo
inferno / Que ninguém poderá esquecer / Ter que matar ou morrer / Ao sabor do
vento / Naquele tormento”.
A Guerra Colonial foi uma experiência traumática,
que marcou profundamente uma geração, entre 1961 e 1974. Foram mobilizados
cerca de um milhão e 400 mil homens; houve aproximadamente nove mil mortos e 30
mil feridos; e 140 mil ex-combatentes ficaram a sofrer de distúrbio
pós-traumático do stress de guerra.
Do concelho de Ponte da Barca, terão morrido na
Guerra Colonial 11 jovens: seis em Moçambique e cinco em Angola.
Aos combatentes do concelho de Ponte da Barca falecidos na Guerra do Ultramar (1961-1974) |
Os combates começaram em Angola, no início de 1961.
Dois anos depois, alastraram-se à Guiné e, em 1964, a Moçambique. Nestes três
territórios, diversos movimentos reivindicavam a sua independência, enquanto o
Estado Novo insistia em manter pela força as chamadas colónias ultramarinas,
com o objetivo de garantir o “Portugal uno e pluricontinental do Minho a
Timor”…
Só com a Revolução dos Cravos, em 1974, é que será
negociado um fim político para os conflitos.
Na África, apenas os territórios insulares – Cabo
Verde e São Tomé e Príncipe – não tiveram problemas de guerra; na Ásia, Macau
sofreu de alguns momentos de instabilidade por influência da Revolução Cultural
na vizinha República Popular da China e Timor só viu surgir os seus movimentos
a favor da independência, após o 25 de abril de 1974.
Quanto às possessões portuguesas de Goa, Damão e
Diu, foram integradas na União Indiana, sob administração direta do governo
federal, no dia 19 de dezembro de 1961, com a rendição incondicional das forças
portuguesas, depois de um breve conflito que durou cerca de 36 horas.
Vamos lá ouvir – e cantar – “Aquele
inverno”, com Miguel Ângelo e os “DELFINS”…
A Organização
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