quinta-feira, 19 de outubro de 2023

A CANTIGA É UMA ARMA

"Trova do Vento que Passa”

Até ao próximo dia 25 de Abril, altura em que se completam 50 anos da Revolução dos Cravos, continuámos a recordar, semana a semana, um poema, uma canção e histórias associadas, que nos remetem para esse importante período da nossa vida coletiva.


Na edição desta semana de “A Cantiga é uma Arma”, visitamos a “Trova do Vento que Passa”, um tema que, a partir de 1963, se transformou num verdadeiro símbolo da contestação ao regime ditatorial do Estado Novo.

“Trova do Vento que Passa” é um longo poema de 15 quadras, em redondilha maior, escrito por Manuel Alegre em 1963 e publicado dois anos mais tarde, no livro “Praça da Canção”.

A primeira e as duas últimas estrofes foram musicadas por António Portugal, dando origem a uma balada do ano de 1963, interpretada por Adriano Correia de Oliveira, no seu disco “Fados de Coimbra”.

O sucesso desta canção foi percebido três dias depois do seu lançamento, por ocasião de uma festa de caloiros da Faculdade de Medicina. Há relatos que garantem que o delírio foi de tal dimensão que Adriano Correia de Oliveira teve de a cantar três ou quatro vezes. A "Trova do Vento Que Passa" tornou-se, então, como que um hino para o meio universitário, nomeadamente o de Coimbra, e não só…

Rapidamente, transformou-se numa das principais armas de denúncia da situação do país, já mergulhado na guerra colonial, desde 1961, e um símbolo da contestação ao regime ditatorial do Estado Novo, em que a censura e a PIDE agiam com repressão e violência.

Num registo simples e com uma forte sonoridade, "Trova do Vento Que Passa" começa por falar do silêncio sombrio e da “desgraça” em que o país vive.

Mas o tom final é de esperança e de otimismo, porque “há sempre uma candeia / dentro da própria desgraça / há sempre alguém que semeia / canções no vento que passa.”

Por outras palavras, “há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não.”

“Há sempre alguém que resiste”

Para além de Adriano Correia de Oliveira, “Trova do Vento que Passa” foi igualmente cantada pelo Quarteto 1111 (1970), Tony de Matos (1977), Dr. Tavares Fortuna (1994), e Manuela Bravo (1996), entre outros.

Amália Rodrigues e Manuel Alegre

O poema de Manuel Alegre foi também interpretado por Amália Rodrigues no disco "Com Que Voz" (1970), sendo a música de Alain Oulman. Nesta versão, a única estrofe igual à de Adriano Correia de Oliveira é a primeira; no restante, a fadista seguiu a segunda, a terceira e a quarta estrofes da ordem do poema.

Vamos lá ouvir – e cantar – “Trova do Vento que Passa”, na interpretação de Adriano Correia de Oliveira e de Amália Rodrigues.

A Organização

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