(…) «quem não sabe arte não na estima.»
«Enfim,
não houve forte Capitão,
Que
não fosse também douto e ciente,
Da
Lácia, Grega ou Bárbara nação,
Senão
da Portuguesa tão-somente.
Sem
vergonha o não digo, que a razão
De
algum não ser por versos excelente,
É
não se ver prezado o verso e rima,
Porque
quem não sabe arte não na estima.»
Luís de Camões, Os Lusíadas, V, 97.
Nas
estrofes finais do canto V, Camões critica os Portugueses, seus contemporâneos,
porque desprezam a poesia, as letras, a arte em geral.
De
facto, grandes figuras da Antiguidade Clássica, seja da Grécia, seja de Roma, para
além da arte bélica, tinham grande erudição e cultura.
Já
no que diz respeito a Portugal, o narrador lamenta, envergonhado, que a epopeia
da expansão marítima só tenha produzido heróis de força bruta, sem qualquer
estima pela arte e pela cultura:
«Enfim,
não houve forte Capitão,
Que
não fosse também douto e ciente,
Da
Lácia, Grega ou Bárbara nação,
Senão da Portuguesa tão-somente.»
Neste
queixume, Camões inclui
o próprio Vasco da Gama, pela indiferença que manifestava quanto à
divulgação dos seus feitos, ao contrário do que se tinha passado com os
heróis da Antiguidade Clássica.
Ora, a verdade é que os Portugueses
são bravos e destemidos e o próprio Vasco da Gama superou os antigos em
heroicidade. Mas esta heroicidade só será imortalizada se for cantada pelos
poetas, se houver sensibilidade para apreciar e acarinhar a arte, a poesia. Doutro
modo, perde-se
a nossa memória coletiva e perde-se a força inspiradora do exemplo, que
incentiva o homem à
imitação ou superação desses feitos sublimes e mobiliza para
novos feitos.
Daí a importância do ideal de herói
renascentista, um herói que concilia as armas e as letras. E daí o lamento do
poeta, que não esconde a sua perplexidade perante o facto de os
Portugueses serem “tão ásperos”, “tão austeros, / tão rudos e de engenho tão
remisso” (V, 98), e, pior ainda, não se preocuparem minimamente com esta sua
pobre condição.
Séculos
e séculos depois, este desafio continua intemporal.
Em
2024, cada um dos Portugueses manifesta apetência pela arte e estima a cultura?
Quem
não sabe arte não a estima. E quem não estima a arte não valoriza a dimensão
libertadora da condição humana!
A
arte humaniza, a arte salva! A arte eleva-nos ao universo da criação.
Mas,
afinal, o que é arte?
Eis
uma reflexão de “GCF Global”…
A Organização
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