VISITA GUIADA AO CASTELO DA NÓBREGA
Em Ponte da Barca, quando se fala em castelos, somos imeadiatamente
levados a pensar no de Lindoso.
Trata-se de um castelo muito conhecido, cuja antiguidade é atestada
pelas “Inquirições” de 1258 e que, ao longo dos primeiros séculos da
Nacionalidade e também nas campanhas da Restauração ou Aclamação (1641-1664), desempenhou
um importante papel na defesa do Vale do Lima.
No Dia Nacional dos Castelos, impõe-se, no entanto, a visita a um outro menos
conhecido, apesar de central na história e na identidade desta terra e das suas
gentes – o castelo da Nóbrega.
O vocábulo “Nóbrega” é, provavelmente, de origem celta e
significa “local fortificado”. Refere-se ao castro defensivo que existiu,
durante séculos, no enorme e quase inacessível maciço rochoso de granito, de
cota 775, sobranceiro ao lugar de Ventuzelo (Livramento), na freguesia de
Sampriz.
Pela sua localização estratégica, designou uma das circunscrições em
que, desde os tempos romanos ou mesmo pré-romanos, o território se dividia para
fins administrativos, judiciais, militares e religiosos. Na Idade Média, deu mesmo
nome à Terra da Nóbrega (e não Terras da Nóbrega…), circunscrição
territorial que, mais tarde, passou a ser conhecida por Ponte da Barca.
Local do castelo da Nóbrega, visto do lado sul
O texto mais antigo que se conhece a mencionar o nome de “Nóbrega” (ou
“Anóbriga”) é um inventário dos bens do mosteiro de Guimarães, do ano de 1059. O
primeiro governador militar da Terra da Nóbrega, depois da constituição do
Condado Portucalense, parece ter sido Ourigo Ourigues, O Velho, que
restaurou a fortaleza, um castelo roqueiro em madeira. Seguiram-se-lhe Ourigo
Ourigues e Rodrigo Mendes, ambos mencionados num documento de 1195.
Os séculos medievais da fundação da nacionalidade e da afirmação de quem
somos foram tempos de enorme importância para o castelo. À sua proteção se
acolhiam as populações das freguesias, sempre que se sentiam ameaçadas. E estas
mesmas freguesias contribuíam para a sua grandeza e para o sustento do
casteleiro.
Depois, a partir do séc. XV, deixou de ter importância defensiva. Vieram
os tempos em que a Nação se voltou para o mar e nasceu um Portugal de
navegadores... O castelo começou a cair no abandono e a entrar em ruínas, tal
como a vizinha ermida de S. Miguel Arcanjo!
Em 1527, o “Numeramento” da população refere o castelo, dizendo que está
situado “sobre uma frágua, ermo e casi no meo do concelho”. As suas ruínas,
porém, ainda seriam aproveitadas, mais de um século depois, quando os tambores
da guerra com Espanha voltaram a soar, durante as campanhas da Restauração ou
da Aclamação, entre 1641 e 1664.
Vista do Vale do Lima, a partir do local do castelo
No verão de 1662, o general inimigo não hesitou em ocupar as suas
ruínas. Baltasar Pantoja tinha estabelecido o seu quartel no Paço de Giela, em
Arcos de Valdevez, e, no dia três de agosto desse ano, deu ordens às suas
tropas para, em Vila Nova de Muía, atravessarem o rio Lima e subirem em direção
ao castelo. A partir das alturas do Livramento, queria apoiar o ataque a Ponte
de Lima e a Braga. É verdade que não o conseguiu, graças à pronta atuação de D.
Francisco de Sousa, conde de Prado e governador das Armas do Minho. Mas nem por
isso se foi embora. Bem pelo contrário! Utilizou as suas ruínas para coordenar
as forças que atacaram a vila e o concelho de Ponte da Barca e tomaram o
castelo de Lindoso.
As incursões dos soldados invasores alargaram-se, de facto, à maior
parte do concelho. A igreja matriz de Ponte da Barca foi uma das principais
vítimas. Ficou em tal estado que o culto teve de ser transferido para a igreja
da Misericórdia. Só passadas mais de duas décadas é que começaram as
diligências para restaurar o templo, uma obra que conheceu altos e baixos e se
prolongou pela primeira metade de Setecentos.
Quanto ao castelo de Lindoso, em 1662 caiu nas mãos dos espanhóis, mas,
nos princípios de 1664, foi, definitivamente, reconquistado.
E assim, pela última vez, o castelo da Nóbrega esteve na linha da frente
da nossa História. E foi personagem no capítulo decisivo da nossa Restauração.
Hoje, é uma lição, quase apagada no tempo! Uma lição que apenas a
memória e a vontade de saber quem somos e que História temos nos obriga a
conhecer e a guardar.
Luís Arezes
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