sexta-feira, 7 de outubro de 2022

DIA NACIONAL DOS CASTELOS

 VISITA GUIADA AO CASTELO DA NÓBREGA

Em Ponte da Barca, quando se fala em castelos, somos imeadiatamente levados a pensar no de Lindoso.

Trata-se de um castelo muito conhecido, cuja antiguidade é atestada pelas “Inquirições” de 1258 e que, ao longo dos primeiros séculos da Nacionalidade e também nas campanhas da Restauração ou Aclamação (1641-1664), desempenhou um importante papel na defesa do Vale do Lima.

No Dia Nacional dos Castelos, impõe-se, no entanto, a visita a um outro menos conhecido, apesar de central na história e na identidade desta terra e das suas gentes – o castelo da Nóbrega.

O vocábulo “Nóbrega” é, provavelmente, de origem celta e significa “local fortificado”. Refere-se ao castro defensivo que existiu, durante séculos, no enorme e quase inacessível maciço rochoso de granito, de cota 775, sobranceiro ao lugar de Ventuzelo (Livramento), na freguesia de Sampriz.

Pela sua localização estratégica, designou uma das circunscrições em que, desde os tempos romanos ou mesmo pré-romanos, o território se dividia para fins administrativos, judiciais, militares e religiosos. Na Idade Média, deu mesmo nome à Terra da Nóbrega (e não Terras da Nóbrega…), circunscrição territorial que, mais tarde, passou a ser conhecida por Ponte da Barca.

Local do castelo da Nóbrega, visto do lado sul

O texto mais antigo que se conhece a mencionar o nome de “Nóbrega” (ou “Anóbriga”) é um inventário dos bens do mosteiro de Guimarães, do ano de 1059. O primeiro governador militar da Terra da Nóbrega, depois da constituição do Condado Portucalense, parece ter sido Ourigo Ourigues, O Velho, que restaurou a fortaleza, um castelo roqueiro em madeira. Seguiram-se-lhe Ourigo Ourigues e Rodrigo Mendes, ambos mencionados num documento de 1195.

Os séculos medievais da fundação da nacionalidade e da afirmação de quem somos foram tempos de enorme importância para o castelo. À sua proteção se acolhiam as populações das freguesias, sempre que se sentiam ameaçadas. E estas mesmas freguesias contribuíam para a sua grandeza e para o sustento do casteleiro.

Depois, a partir do séc. XV, deixou de ter importância defensiva. Vieram os tempos em que a Nação se voltou para o mar e nasceu um Portugal de navegadores... O castelo começou a cair no abandono e a entrar em ruínas, tal como a vizinha ermida de S. Miguel Arcanjo!

Em 1527, o “Numeramento” da população refere o castelo, dizendo que está situado “sobre uma frágua, ermo e casi no meo do concelho”. As suas ruínas, porém, ainda seriam aproveitadas, mais de um século depois, quando os tambores da guerra com Espanha voltaram a soar, durante as campanhas da Restauração ou da Aclamação, entre 1641 e 1664.

Vista do Vale do Lima, a partir do local do castelo

No verão de 1662, o general inimigo não hesitou em ocupar as suas ruínas. Baltasar Pantoja tinha estabelecido o seu quartel no Paço de Giela, em Arcos de Valdevez, e, no dia três de agosto desse ano, deu ordens às suas tropas para, em Vila Nova de Muía, atravessarem o rio Lima e subirem em direção ao castelo. A partir das alturas do Livramento, queria apoiar o ataque a Ponte de Lima e a Braga. É verdade que não o conseguiu, graças à pronta atuação de D. Francisco de Sousa, conde de Prado e governador das Armas do Minho. Mas nem por isso se foi embora. Bem pelo contrário! Utilizou as suas ruínas para coordenar as forças que atacaram a vila e o concelho de Ponte da Barca e tomaram o castelo de Lindoso. 

As incursões dos soldados invasores alargaram-se, de facto, à maior parte do concelho. A igreja matriz de Ponte da Barca foi uma das principais vítimas. Ficou em tal estado que o culto teve de ser transferido para a igreja da Misericórdia. Só passadas mais de duas décadas é que começaram as diligências para restaurar o templo, uma obra que conheceu altos e baixos e se prolongou pela primeira metade de Setecentos.

Quanto ao castelo de Lindoso, em 1662 caiu nas mãos dos espanhóis, mas, nos princípios de 1664, foi, definitivamente, reconquistado.

E assim, pela última vez, o castelo da Nóbrega esteve na linha da frente da nossa História. E foi personagem no capítulo decisivo da nossa Restauração.

Hoje, é uma lição, quase apagada no tempo! Uma lição que apenas a memória e a vontade de saber quem somos e que História temos nos obriga a conhecer e a guardar.

Luís Arezes

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