Carta
a todos os viajantes…
Exploradores, viajantes, aventureiros. Estas
pessoas inquietas que deixam a curiosidade falar mais alto e seguem os seus
instintos na busca de novas descobertas. Estes eternos insatisfeitos: há sempre
algo a mais por descobrir e algo a mais por experimentar. Na busca pelo novo,
deparam-se com situações que provocam uma mudança no seu modo de viver.
Viajantes nunca estão infelizes. Vivem num estado latente de transformação. Há
sempre algo que pode romper com os paradigmas e conceitos mais sólidos da sua
visão de mundo. Viajantes não possuem uma visão fixa do mundo, eles constroem-na
constantemente. E desconstroem-na.
Pergunte a um viajante qual a melhor viagem
que ele já fez. Dificilmente ele responderá de forma objetiva a esta questão. E
dificilmente esta será uma resposta limitada. A cada viagem, uma nova visão
sobre todas as outras viagens toma lugar na sua memória e cada momento lembrado
adquire um novo significado. É bem provável que um viajante fale muito sobre a sua
última viagem, mas, como um colecionador de objetos preciosos, há sempre uma
peça especial que foi conquistada há muitos anos e uma peça por adquirir. E não
pense que há um limite: um colecionador de paisagens sabe que todos os dias da
sua vida serão insuficientes para adquirir todos os itens da sua coleção.
Há quem considere um viajante inconsequente,
desapegado, louco. E há quem o chame de livre, desbravador, à frente do seu
tempo. Eu voto por quem defina um viajante como aquele que verdadeiramente vive
o presente. Parece um clichê, mas, se pensarmos bem, um viajante solta-se das
amarras do passado e de tudo o que o prende às suas lembranças e antigos
sonhos. Um viajante não pensa no que deixou, no que tinha há algum tempo e no
que havia conquistado. E também não pensa no que será conquistado um dia, no
que terá ou no que fará no futuro. Um viajante é talvez aquele ser que melhor
aproveita o segundo que está a passar neste exato momento.
[…] Vivemos num mundo em que é cada dia mais
difícil tomar as nossas próprias decisões. Estamos orientados a fazer aquilo
que se tem de fazer por ser o certo. Estamos orientados a reproduzir o sucesso
de outros, a comprar a nossa felicidade a prestações e sonhar os sonhos que nos
ensinaram a sonhar. Ensinaram-nos a viver no porque sim. Mas aquele lugar
maravilhoso por descobrir muitas vezes está longe do porque sim.
Escolhamos um destino improvável, uma
montanha desconhecida, uma praia intocada. Desfrutemos da descoberta como um
viajante que cria as suas histórias pelo simples prazer de contar uma novidade.
Sejamos todos nesta vida viajantes.
Ju
Guimarães
Sem comentários:
Enviar um comentário