quinta-feira, 14 de março de 2019


Agrupamento de Escolas assinala os 400 anos
da morte de Frei Agostinho da Cruz

O Agrupamento de Escolas de Ponte da Barca assinalou, hoje, a passagem dos 400 anos da morte de Frei Agostinho da Cruz, ilustre barquense que deixou uma obra literária de vulto e também um percurso de vida profundamente inspirador.

Logo pela manhã, todas as turmas da Escola Secundária iniciaram as suas atividades letivas com a visualização de um vídeo/documentário sobre Frei Agostinho da Cruz (pesquisa e guião da autoria do professor Luís Arezes e realização do professor Emanuel Cruz).
Pelas 10.30 horas, procedeu-se à inauguração de poesia de Frei Agostinho da Cruz inscrita em alguns bancos do recinto escolar, assim como de uma exposição no Bloco C da Escola Secundária sobre a vida e a obra do arrábido e sobre a sua presença em Ponte da Barca, seguindo-se um colóquio, a cargo do professor Luís Arezes.
O Diretor do Agrupamento abriu a sessão, a que se associaram o Presidente e Vereadores da Câmara Municipal e ainda representantes de diversas instituições concelhias.
Na sua intervenção, o professor Carlos Louro enalteceu a figura de Frei Agostinho, sublinhando a importância do seu legado na afirmação da identidade de Ponte da Barca. Por isso, esta homenagem constitui um ato da mais elementar justiça e um exercício de cidadania que o Agrupamento de Escolas não poderia deixar de promover, referiu.
No final da sessão, a comitiva escolar e convidados deslocaram-se até à Praceta Frei Agostinho da Cruz, em frente à Escola Básica Diogo Bernardes, onde a Autarquia descerrou uma placa com a indicação toponímica.
Durante o dia, foi ainda distribuído a todos os membros da comunidade escolar um desdobrável sobre o venerável poeta, concebido pelo Agrupamento e editado com o apoio da Câmara Municipal.
Por sua vez, uma turma do 9.º ano percorreu vários espaços públicos e instituições da vila de Ponte da Barca, distribuindo o desdobrável e lendo textos do poeta arrábido.


Vida e Obra do Venerável Poeta
Agostinho Pimenta nasce em Ponte da Barca, a 3 de maio de 1540, Dia da Santa Cruz. A sua família é letrada e o irmão mais velho, Diogo Bernardes, é um exemplo e uma inspiração.
Terá frequentado os bancos escolares do mosteiro românico de Santa Maria Virgem de Vila Nova de Muía e, por volta dos 15 anos, é acomodado ao serviço do Infante D. Duarte, mecenas das Letras, sobrinho de D. João III e primo de D. Sebastião. Aguarda-o o convívio nos círculos mais cultos e influentes do Reino, onde cresce e lança voos na arte poética, ao mesmo tempo que a todos encanta com o seu fino trato e alegre companhia.
Neste meio de eleição, Agostinho contacta com fidalgos da Casa de Aveiro, o Duque D. Álvaro de Lencastre e o filho, D. Jorge. Deste convívio resulta um especial afeto que perdurará no tempo...
Até que, na verdura da juventude, surpreende tudo e todos com a decisão radical de vestir o hábito de religioso. Ao celebrar 20 anos, inicia o noviciado em Santa Cruz de Sintra. Um ano depois, precisamente a 3 de maio de 1561, Dia da Santa Cruz, toma o hábito da rigorosa Ordem dos Capuchos Arrábidos, com o nome conventual de Frei Agostinho da Cruz.
Nas próximas quatro décadas e meia, o Convento na serra de Sintra será a sua nova morada… Na pobreza extrema, em ascese permanente. Apenas possui a companhia do silêncio, que revela a divindade, e a beleza da Natureza, que fala do seu Criador.
Frei Agostinho nunca aceita Guardianias, apesar de, por várias ocasiões, ter sido eleito para elas. Mas, ao fim de 45 anos de religioso em Sintra, face à insistência do Provincial, assume a do Convento de S. José de Ribamar, em Algés. Tem, agora, um novo desafio, ainda que por pouco tempo. Porque, nesse mesmo ano de 1605, consegue, finalmente, a tão desejada autorização para iniciar vida eremítica, na Arrábida.


14 anos de vida eremítica
Conta 65 anos e é no isolamento da serra que vai passar os restantes 14 da sua vida. O frade arrábido está, finalmente, onde sempre desejou estar: a Natureza, a serra e o mar ao fundo, são o paraíso perdido, o reino da paz, a morada da plenitude.
Segundo os biógrafos setecentistas, consegue na Arrábida uma tal sintonia com a Natureza, que os animais selvagens e as aves vinham comer-lhe à mão e, depois, retiravam-se, obedientes, com a sua bênção.
No tempo que lhe resta das suas obrigações e orações, compõe versos e faz bordões, que oferece aos Frades e aos Duques e Duquesas, que o visitam.
Foi visto muitas vezes a derramar lágrimas de espiritual consolação; outras, estar elevado e fora de si, numa enchente de graça com que o Senhor lhe inundava o espírito.
Até que, em março de 1619, uma aguda febre leva-o à enfermaria que os Capuchos Arrábidos tinham em Setúbal. Acabaria por falecer na noite do dia 14.
À volta dos seus restos mortais, aflui uma multidão de nobres e de gente do povo. Todos querem uma relíquia desse velho, que acabara de morrer com fama de santidade.
É sepultado na serra, junto da Igreja da Arrábida.
Durante anos e anos, este é um local de romagem, que atrai devotos de um homem singular que, para além de poeta, diziam ser um santo.

Um legado precioso
Passados 400 anos, o legado de Frei Agostinho da Cruz continua intemporal. Uma obra poética que reflete uma profunda inquietação existencial e uma forte inspiração religiosa, com temáticas dominantes como a exaltação da Cruz redentora, manifestação do Amor divino e porto de abrigo, e o canto da Natureza, revelação do Criador.
A inspiração bucólica de Agostinho da Cruz traduz-se num canto sublime da comunhão do Homem com a Natureza. Uma lição inspiradora, neste tempo que vai descobrindo os desafios da sustentabilidade e a urgência da mitigação da pegada ecológica.   
Passados 400 anos, o seu legado humanista, como homem e como poeta, mantém-se vivo e inspirador.

Frei Agostinho da Cruz na Ponte da Barca

Passados 400 anos sobre a morte de Frei Agostinho da Cruz, Ponte da Barca trata de perpetuar a sua memória.
A 27 de janeiro de 1906, a Câmara Municipal deliberou passar a designar por “Campo de Frei Agostinho da Cruz” o então chamado “Campo da Feira”. Mas, cinco anos depois, a 12 de janeiro de 1911, foi-lhe dado o nome de “Praça da República”, que ainda se mantém.
Só há alguns anos é que o expoente da poesia religiosa nacional voltaria a integrar a toponímia barquense, com a “Praceta Frei Agostinho da Cruz”, localizada junto à Escola Básica, que tem como patrono o irmão mais velho do arrábido, o também poeta Diogo Bernardes.
Desde 1940, os irmãos Diogo Bernardes e Frei Agostinho da Cruz inspiram a designação de “Jardim dos Poetas”, espaço anteriormente chamado “Largo de Maria Lopes da Costa” e, até 1906, “Largo do Pelourinho”.
A alteração toponímica e a construção do monumento evocativo aconteceram no âmbito das Comemorações Centenárias (1940) e da celebração do 4.º centenário do nascimento de Frei Agostinho da Cruz (3 de maio de 1540).
Os dois irmãos foram ainda os patronos do Centro Cultural Frei Agostinho da Cruz e Diogo Bernardes, fundado a 8 de abril de 1983, em Ponte da Barca, cuja sede funcionou na Casa de Santo António do Buraquinho.
A Organização

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