terça-feira, 25 de março de 2025

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES

Verdes são os campos”

Verdes são os campos,

De cor de limão:

Assim são os olhos

Do meu coração.

 

Campo, que te estendes

Com verdura bela;

Ovelhas, que nela  

Vosso pasto tendes,

De ervas vos mantendes

Que traz o verão,

E eu das lembranças

Do meu coração.

 

Gados que pasceis

Com contentamento,

Vosso mantimento

Não no entendereis;

Isso que comeis

Não são ervas, não:

São graças dos olhos

Do meu coração.

Luís de Camões, Lírica, fixação do texto de Hernâni Cidade, Lisboa, Círculo de Leitores, 1980, p. 107.

Esta é uma conhecida cantiga do ciclo da “menina dos olhos verdes”, em que o poeta exalta a beleza da mulher amada e realça a ideia de que a verdura que o gado pasta é a graça dos olhos que lhe enche o coração.

Num cenário bucólico, com a paisagem a ser utilizada como uma metáfora para os sentimentos, o sujeito poético compara os olhos da amada ao verde dos campos, dizendo que estes são como os olhos do seu coração. E assinala que, tal como as ovelhas e os gados, também ele se alimenta, não da “verdura bela” das ervas, mas, isso sim, das memórias da sua amada.

Aliás, a recordação feliz, ainda que saudosa e nostálgica, da amada chega ao ponto da sintonia perfeita do “eu” lírico com os gados que pastam, com contentamento:

“(…) Isso que comeis

Não são ervas, não:

São graças dos olhos

Do meu coração”.

Neste ambiente de exaltação e de vassalagem da amada, dir-se-ia que a Natureza é bela na medida em que participa das belezas da senhora.


O canto dos olhos verdes traduz, por outro lado, uma forte originalidade. De facto, à época, o ideal da beleza feminina considerava que os olhos mais belos eram os azuis.

Acontece que diversos poemas de Camões são dedicados a uma destinatária de olhos verdes, uma situação que “originou várias especulações biográficas”. Segundo Maria de Lurdes Saraiva, “com segurança, só se pode afirmar que essa amada de olhos verdes era de extrema juventude, uma criança que começava a entrar na vida”.


Com a primavera de 2025 a dar os primeiros passos, apetece ler e ouvir e cantar a simplicidade e a beleza do amor, num ambiente bucólico.

“Verdes são os campos” é um poema que Zeca Afonso musicou e cantou. Faz parte do álbum Traz outro amigo também, editado em 1970. E, desde então, conheceu várias interpretações…

Vamos ouvir a versão original: Zeca Afonso, “Verdes são os campos”, de Luís de Camões.

Boa primavera! Viva a poesia…

Fonte: Luís de Camões, Lírica Completa I, prefácio e notas de Maria de Lurdes Saraiva, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1980, pp. 160 e 166.

A Organização

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