"Queixa das almas jovens censuradas"
A
edição desta semana de “A Cantiga é uma Arma” recua ao ano de 1971, para
celebrar “Queixa das almas jovens censuradas”, uma canção de José Mário Branco,
com letra de Natália Correia.
Trata-se
de um tema que faz parte do álbum “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, gravado em 1971, em França,
durante os anos de exílio do cantautor, que é considerado um dos mais
importantes da música portuguesa e da canção de intervenção.
Nas palavras de
Nuno Galopim, «“Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades” eleva a canção em língua portuguesa a um espaço de
primor estético mais desafiante do que até aí se conhecera».
No
seu conjunto, o álbum é uma espécie de marcha repleta de
simbologia, remetendo para um horizonte de futuro, para o que se desejava como
inevitável: a mudança, política e social. Neste trabalho, destaca-se a canção “Queixa
das almas jovens censuradas”, um poema de Natália Correia, cujo título sugere
um lamento dos jovens a quem impedem de ser
livres.
A utilização
sistemática, ao longo do poema, da 1.ª pessoa do plural sublinha a natureza
coletiva de quem se lamenta. Podemos afirmar que estamos perante o relato
triste de toda uma geração que é obrigada a “ir à escola”, para receber uma
educação destinada a produzir bonecos, “manequins” de “corda", sem
alma, "vazios", sem
ideias próprias, sem identidade, sem nada. Uma educação que procura
fazer dos jovens cadáveres adiados, incapazes de espetar “os cornos no destino”.
A deformação levada a cabo pelos censores é
bem visível na quinta estrofe:
“Penteiam-nos
os crânios ermos
Com
as cabeleiras dos avós
Para
jamais nos parecermos
Connosco
quando estamos sós.”
Graças à sua divulgação nas rádios, a
canção teve uma forte receção em Portugal, contribuindo para o aprofundamento
do compromisso político contra a censura e as
dores de uma sociedade fechada.
Vamos, então,
ouvir – e cantar – “Queixa das almas jovens censuradas”, um grito de cidadaniade Natália Correia cantado por José Mário Branco…
A Organização
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