quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A CANTIGA É UMA ARMA

"Queixa das almas jovens censuradas"

A edição desta semana de “A Cantiga é uma Arma” recua ao ano de 1971, para celebrar “Queixa das almas jovens censuradas”, uma canção de José Mário Branco, com letra de Natália Correia.


Trata-se de um tema que faz parte do álbum “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, gravado em 1971, em França, durante os anos de exílio do cantautor, que é considerado um dos mais importantes da música portuguesa e da canção de intervenção.

Nas palavras de Nuno Galopim, «“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” eleva a canção em língua portuguesa a um espaço de primor estético mais desafiante do que até aí se conhecera». 


No seu conjunto, o álbum é uma espécie de marcha repleta de simbologia, remetendo para um horizonte de futuro, para o que se desejava como inevitável: a mudança, política e social. Neste trabalho, destaca-se a canção “Queixa das almas jovens censuradas”, um poema de Natália Correia, cujo título sugere um lamento dos jovens a quem impedem de ser livres.

A utilização sistemática, ao longo do poema, da 1.ª pessoa do plural sublinha a natureza coletiva de quem se lamenta. Podemos afirmar que estamos perante o relato triste de toda uma geração que é obrigada a “ir à escola”, para receber uma educação destinada a produzir bonecos, “manequins” de “corda", sem alma, "vazios", sem ideias própriassem identidade, sem nada. Uma educação que procura fazer dos jovens cadáveres adiados, incapazes de espetar “os cornos no destino”.

A deformação levada a cabo pelos censores é bem visível na quinta estrofe:

“Penteiam-nos os crânios ermos

Com as cabeleiras dos avós

Para jamais nos parecermos

Connosco quando estamos sós.”


Graças à sua divulgação nas rádios, a canção teve uma forte receção em Portugal, contribuindo para o aprofundamento do compromisso político contra a censura e as dores de uma sociedade fechada.

Vamos, então, ouvir – e cantar – “Queixa das almas jovens censuradas”, um grito de cidadaniade Natália Correia cantado por José Mário Branco…  

A Organização

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