“Canta, canta, amigo, canta”
A caminho dos 50 anos do “25 de Abril”,
continuamos a dar voz ao apontamento “A Cantiga é uma Arma”.
Semana a semana, recuperamos uma canção
que tenha marcado essa época de transição do Estado Novo para a Liberdade e a
Democracia.
Na edição 6 desta iniciativa, vamos ao
encontro de um tema que ficou no imaginário popular, antes e depois do “25 de
Abril”.
Apesar de, atualmente, estar praticamente
esquecida, tal como o seu autor, António Macedo, “Erguer a voz e cantar” (ou
“Canta, canta, amigo, canta”) é uma canção-chave dos “filhos da madrugada”.
Nos últimos anos do Estado Novo, não havia
reunião, convívio, passeio, em que não se fizesse ouvir o “canta, canta, amigo,
canta, / Vem cantar a nossa canção, / Tu sozinho não és nada, / Juntos temos o
mundo na mão”.
Trata-se, de facto, de uma balada
considerada por muitos como um hino de resistência, que faz parte da memória
coletiva, na medida em que marcou uma geração e uniu muita gente, contribuindo para
o aprofundamento do espírito de luta, nos anos que antecederam a Revolução dos
Cravos.
Com uma mensagem muito forte de apelo à entreajuda
e à solidariedade, a canção exalta ainda o sentido cívico da participação ativa
(“Erguer a voz e cantar”…, por oposição à fraqueza de quem se limita a “Viver
sempre a esperar”) e semeia a esperança “dum novo dia”: “Não vás ao sabor do
vento / Aprende a canção da esperança / Vem semear tempestades / Se queres
colher a bonança.”
O autor deste tema emblemático é António Macedo (1946-1999), nome que se destacou
pela força das suas canções e pela sua ação interventiva, antes e durante a
Revolução.
Com uma discografia curta, a sua música é simples e direta, para o contexto da época, destacando-se do seu
primeiro disco, de 1970, o tema "Erguer a voz e cantar", que ficou no
imaginário popular antes e depois do “25 de Abril”.
O jornalista Mário Contumélias, reportando
para a revista “Cinéfilo” de 6 de abril de 1974 o I Encontro da Canção
Portuguesa, que se realizara a 30 de março, escrevia: “Fosse lá porque fosse,
naquela noite, no Coliseu, senti-me. E isso não nos acontece todos os dias.
Isso é importante!”.
“Estavam lá, não sei se já vos disse, 5
mil pessoas. Eram 10 horas, passavam 30 minutos da hora prevista para o começo
do espetáculo. Cantava-se em coro ‘Canta, canta, amigo, canta’… Era assim que
os 5 mil pediam que o espetáculo, também ele, começasse.”
Dir-se-ia que aquela noite, de finais de março
de 1974, já fazia antever o que, umas três semanas depois, viria a acontecer….
Vamos lá, então,
ouvir – e cantar – “Canta,canta, amigo, canta”, de António Macedo…
A Organização
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