quinta-feira, 2 de novembro de 2023

A CANTIGA É UMA ARMA

“Aquele inverno” da Guerra Colonial

Depois de, na última semana, termos apresentado a “Cantata da Paz”, um poema de Sophia de Mello Breyner interpretado por Francisco Fanhais, a rubrica “A Cantiga é uma Arma” dedica hoje a sua atenção ao tema “Aquele inverno”.

Numa outra perspetiva, continuamos a falar da guerra e do desejo da Paz, continuamos a trazer para análise a questão da Guerra Colonial.

Mais de uma década depois do termo dos conflitos armadas nas antigas colónias em África, a banda pop-rock “Delfins” retomou o tema, com a canção “Aquele inverno”, da autoria de Miguel Ângelo e Fernando Cunha.

Inserida no álbum “U Outro Lado Existe”, de 1988, a canção aviva memórias trágicas, recorda traumas de um coração gelado com a “imagem / Daquele inverno / Naquele inferno”, que se teme nunca venha a “ter um fim”…

E o inferno a que a música se refere, metaforicamente, é o drama de soldados perdidos “Em terras do Ultramar / Por obrigação”, isto é, jovens a “Combater a selva sem saber porquê”, de tal forma que “quem regressou / Guarda a sensação / Que lutou numa guerra sem razão”.

“Para eles aquele inverno / Será sempre o mesmo inferno / Que ninguém poderá esquecer / Ter que matar ou morrer / Ao sabor do vento / Naquele tormento”.

A Guerra Colonial foi uma experiência traumática, que marcou profundamente uma geração, entre 1961 e 1974. Foram mobilizados cerca de um milhão e 400 mil homens; houve aproximadamente nove mil mortos e 30 mil feridos; e 140 mil ex-combatentes ficaram a sofrer de distúrbio pós-traumático do stress de guerra.

Do concelho de Ponte da Barca, terão morrido na Guerra Colonial 11 jovens: seis em Moçambique e cinco em Angola.

Aos combatentes do concelho de Ponte da Barca
falecidos na Guerra do Ultramar (1961-1974)

Os combates começaram em Angola, no início de 1961. Dois anos depois, alastraram-se à Guiné e, em 1964, a Moçambique. Nestes três territórios, diversos movimentos reivindicavam a sua independência, enquanto o Estado Novo insistia em manter pela força as chamadas colónias ultramarinas, com o objetivo de garantir o “Portugal uno e pluricontinental do Minho a Timor”…

Só com a Revolução dos Cravos, em 1974, é que será negociado um fim político para os conflitos.

Na África, apenas os territórios insulares – Cabo Verde e São Tomé e Príncipe – não tiveram problemas de guerra; na Ásia, Macau sofreu de alguns momentos de instabilidade por influência da Revolução Cultural na vizinha República Popular da China e Timor só viu surgir os seus movimentos a favor da independência, após o 25 de abril de 1974.

Quanto às possessões portuguesas de Goa, Damão e Diu, foram integradas na União Indiana, sob administração direta do governo federal, no dia 19 de dezembro de 1961, com a rendição incondicional das forças portuguesas, depois de um breve conflito que durou cerca de 36 horas. 

Vamos lá ouvir – e cantar – “Aquele inverno”, com Miguel Ângelo e os “DELFINS”…

A Organização

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