segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

NO DIA DE REIS

De olhos na Estrela no Oriente

Quando chegam a Jerusalém, os Magos perguntam onde está o rei dos Judeus que acabara de nascer. E acrescentam:

“Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2, 2). 


Que estrela é esta?

Trata-se de um fenómeno astronómico para o qual há várias explicações. Para uns, terá sido um cometa. Para outros, a estrela terá resultado da conjunção de Saturno e de Júpiter. Para outros, deverá ter sido algo milagroso que fez refletir as pessoas familiarizadas com o estudo dos astros, como era o caso dos Magos. A maioria dos exegetas, porém, pensa que foi um meteoro extraordinário que guiou os Magos até Belém. 

Seja como for, a estrela tornou-se o símbolo do nascimento de Jesus. E, frequentemente, é representada com quatro pontas e uma cauda luminosa para significar as quatro direções da Terra. De todos os lados, virão adorar o Deus-Menino, luz de todos os povos e de todas as nações. 

Melchior, Gaspar e Baltasar

Importa assinalar que o título de reis, o número três, bem como os seus nomes próprios se devem a uma tradição que nada tem a ver com os Evangelhos.

Apesar de, até ao século VI, a palavra “rei”, na literatura cristã, ter um sentido religioso e não político, os Magos não eram reis, porque o Evangelho não os identifica como tal, nem Herodes os tratou com esse estatuto. O primeiro autor a chamar-lhes “reis” foi S. Cesário de Arles, no século VI, ao que tudo indica por influência do Salmo 72 que exalta a figura messiânica do rei ideal.

Quanto ao número, resultará mais de considerações religiosas e simbólicas, por causa dos três presentes oferecidos. O papa S. Leão, nos meados do século V, foi o primeiro a propor, formalmente, o número três.

Também os nomes são discutíveis, tanto mais que Melchior (rei da luz), Gaspar (aquele que vem ver) e Baltasar (Baal protege o rei), designações com que a Igreja latina os venera, apenas aparecem no princípio do século VIII. É desta altura um curioso texto de Beda, o Venerável, considerando-os representantes, respetivamente, da Europa, da Ásia e da África. Garante ainda o autor que Melchior, um velho de cabelos brancos e de barba comprida, ofereceu o ouro. Que Gaspar entregou o incenso. E que a mirra foi o presente de Baltasar, um mago de pele negra.

Ouro, incenso e mirra

Sábios da astrologia, os Magos terão vindo da Pérsia, da Arábia ou, mais provavelmente, da Babilónia, na Mesopotâmia. Eram conhecedores do messianismo hebraico, porventura na sequência da queda e da destruição de Jerusalém, em 587 a. C., às mãos do rei Nabucodonosor, e da partida do povo de Israel para o exílio na Babilónia.

Segundo a tradição judaica, o Messias tinha como signo a constelação dos Peixes e, na Caldeia, a opinião corrente defendia que a constelação era também o signo da Terra do Ocidente.

Trata-se de uma ideia corroborada por Tácito e Suetónio. Os dois historiadores romanos deixaram-nos o testemunho de que, no Oriente, havia, por esta altura, a expectativa de que a Judeia havia de ser palco de acontecimentos extraordinários.

Interessante é também o facto de Júpiter ser considerado por todos os povos como a estrela da fortuna e da realeza. Saturno, por sua vez, era visto, entre os Judeus, como o protetor de Israel e a astrologia babilónica reconhecia isso mesmo, que o planeta do anel era a estrela especial das vizinhas Síria e Palestina.

Não admira, por isso, que os astrólogos tenham reparado na conjunção tão notável de Júpiter e de Saturno (o protetor do povo de Israel) na constelação dos Peixes, signo da Terra do Ocidente e do Messias. Segundo a interpretação astrológica, era óbvio que estava iminente o aparecimento de um rei poderoso na Terra do Ocidente… 

Impensável naquelas paragens era alguém apresentar-se de mãos vazias na presença de alguém importante. Por isso, os Magos ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra (planta usada para embalsamar os cadáveres), presentes que representam o reconhecimento, respetivamente, da realeza, da divindade e da humanidade de Jesus. 

Prof. Luís Arezes

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