Agrupamento de Escolas assinala os
400 anos
da morte de Frei Agostinho da Cruz
O Agrupamento de Escolas de Ponte
da Barca assinalou, hoje, a passagem dos 400 anos da morte de Frei Agostinho da
Cruz, ilustre barquense que deixou uma obra literária de vulto e também um
percurso de vida profundamente inspirador.
Logo pela manhã, todas as turmas da
Escola Secundária iniciaram as suas atividades letivas com a visualização de um
vídeo/documentário sobre Frei Agostinho da Cruz (pesquisa e guião da autoria do
professor Luís Arezes e realização do professor Emanuel Cruz).
Pelas 10.30 horas, procedeu-se à
inauguração de poesia de Frei Agostinho da Cruz inscrita em alguns bancos do
recinto escolar, assim como de uma exposição no Bloco C da Escola Secundária sobre
a vida e a obra do arrábido e sobre a sua presença em Ponte da Barca, seguindo-se
um colóquio, a cargo do professor Luís Arezes.
O Diretor do Agrupamento abriu a
sessão, a que se associaram o Presidente e Vereadores da Câmara Municipal
e ainda representantes de diversas instituições concelhias.
Na sua intervenção, o professor Carlos
Louro enalteceu a figura de Frei Agostinho, sublinhando a importância do seu
legado na afirmação da identidade de Ponte da Barca. Por isso, esta homenagem
constitui um ato da mais elementar justiça e um exercício de cidadania que o
Agrupamento de Escolas não poderia
deixar de promover, referiu.
No
final da sessão, a comitiva escolar e convidados deslocaram-se até à Praceta
Frei Agostinho da Cruz, em frente à Escola Básica Diogo Bernardes, onde a
Autarquia descerrou uma placa com a indicação toponímica.
Durante o dia, foi ainda distribuído
a todos os membros da comunidade escolar um desdobrável sobre o venerável
poeta, concebido pelo Agrupamento e editado com o apoio da Câmara Municipal.
Por sua vez, uma turma do 9.º ano
percorreu vários espaços públicos e instituições da vila de Ponte da Barca,
distribuindo o desdobrável e lendo textos do poeta arrábido.
Vida e Obra do Venerável Poeta
Agostinho
Pimenta nasce em Ponte da Barca, a 3 de maio de 1540, Dia da Santa Cruz. A sua
família é letrada e o irmão mais velho, Diogo Bernardes, é um exemplo e uma
inspiração.
Terá
frequentado os bancos escolares do mosteiro românico de Santa Maria Virgem de
Vila Nova de Muía e, por volta dos 15 anos, é acomodado ao serviço do Infante
D. Duarte, mecenas das Letras, sobrinho de D. João III e primo de D. Sebastião.
Aguarda-o o convívio nos círculos mais cultos e influentes do Reino, onde
cresce e lança voos na arte poética, ao mesmo tempo que a todos encanta com o
seu fino trato e alegre companhia.
Neste meio
de eleição, Agostinho contacta com fidalgos da Casa de Aveiro, o Duque D.
Álvaro de Lencastre e o filho, D. Jorge. Deste convívio resulta um especial
afeto que perdurará no tempo...
Até que, na
verdura da juventude, surpreende tudo e todos com a decisão radical de vestir o
hábito de religioso. Ao celebrar 20 anos, inicia o noviciado em Santa Cruz de
Sintra. Um ano depois, precisamente a 3 de maio de 1561, Dia da Santa Cruz,
toma o hábito da rigorosa Ordem dos Capuchos Arrábidos, com o nome conventual
de Frei Agostinho da Cruz.
Nas
próximas quatro décadas e meia, o Convento na serra de Sintra será a sua nova
morada… Na pobreza extrema, em ascese permanente. Apenas possui a companhia do
silêncio, que revela a divindade, e a beleza da Natureza, que fala do seu
Criador.
Frei
Agostinho nunca aceita Guardianias, apesar de, por várias ocasiões, ter sido
eleito para elas. Mas, ao fim de 45 anos de religioso em Sintra, face à
insistência do Provincial, assume a do Convento de S. José de Ribamar, em
Algés. Tem, agora, um novo desafio, ainda que por pouco tempo. Porque, nesse
mesmo ano de 1605, consegue, finalmente, a tão desejada autorização para
iniciar vida eremítica, na Arrábida.
14 anos de vida eremítica
Conta 65
anos e é no isolamento da serra que vai passar os restantes 14 da sua vida. O
frade arrábido está, finalmente, onde sempre desejou estar: a Natureza, a serra
e o mar ao fundo, são o paraíso perdido, o reino da paz, a morada da plenitude.
Segundo os
biógrafos setecentistas, consegue na Arrábida uma tal sintonia com a Natureza,
que os animais selvagens e as aves vinham comer-lhe à mão e, depois,
retiravam-se, obedientes, com a sua bênção.
No tempo
que lhe resta das suas obrigações e orações, compõe versos e faz bordões, que
oferece aos Frades e aos Duques e Duquesas, que o visitam.
Foi visto
muitas vezes a derramar lágrimas de espiritual consolação; outras, estar
elevado e fora de si, numa enchente de graça com que o Senhor lhe inundava o
espírito.
Até que, em
março de 1619, uma aguda febre leva-o à enfermaria que os Capuchos Arrábidos
tinham em Setúbal. Acabaria por falecer na noite do dia 14.
À volta dos
seus restos mortais, aflui uma multidão de nobres e de gente do povo. Todos
querem uma relíquia desse velho, que acabara de morrer com fama de santidade.
É sepultado
na serra, junto da Igreja da Arrábida.
Durante
anos e anos, este é um local de romagem, que atrai devotos de um homem singular
que, para além de poeta, diziam ser um santo.
Um legado precioso
Passados
400 anos, o legado de Frei Agostinho da Cruz continua intemporal. Uma obra
poética que reflete uma profunda inquietação existencial e uma forte inspiração
religiosa, com temáticas dominantes como a exaltação da Cruz redentora,
manifestação do Amor divino e porto de abrigo, e o canto da Natureza, revelação
do Criador.
A
inspiração bucólica de Agostinho da Cruz traduz-se num canto sublime da
comunhão do Homem com a Natureza. Uma lição inspiradora, neste tempo que vai
descobrindo os desafios da sustentabilidade e a urgência da mitigação da pegada
ecológica.
Passados
400 anos, o seu legado humanista, como homem e como poeta, mantém-se vivo e
inspirador.
Frei Agostinho da Cruz na Ponte da Barca
Passados 400
anos sobre a morte de Frei Agostinho da Cruz, Ponte da Barca trata de perpetuar
a sua memória.
A 27 de janeiro de 1906, a Câmara
Municipal deliberou passar a designar
por “Campo de Frei Agostinho da Cruz” o então chamado “Campo da Feira”. Mas,
cinco anos depois, a 12 de janeiro de 1911, foi-lhe dado o nome de “Praça da República”, que ainda se mantém.
Só há alguns anos é que o expoente da
poesia religiosa nacional voltaria a integrar a toponímia barquense, com a
“Praceta Frei Agostinho da Cruz”, localizada junto à Escola Básica, que tem
como patrono o irmão mais velho do arrábido, o também poeta Diogo Bernardes.
Desde 1940, os irmãos Diogo Bernardes e
Frei Agostinho da Cruz inspiram a designação de “Jardim dos Poetas”, espaço
anteriormente chamado “Largo de Maria Lopes da Costa” e, até 1906, “Largo do
Pelourinho”.
A alteração toponímica e a construção do
monumento evocativo aconteceram no âmbito das Comemorações Centenárias (1940) e
da celebração do 4.º centenário do nascimento de Frei Agostinho da Cruz (3 de
maio de 1540).
Os dois irmãos foram ainda os patronos
do Centro Cultural Frei Agostinho da Cruz
e Diogo Bernardes, fundado a 8 de abril de 1983, em Ponte da Barca, cuja
sede funcionou na Casa de Santo António do Buraquinho.
A Organização
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